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| Foto: Marcos Correa/PR

O Brasil tem feito um desafio às normas e hábitos estabelecidos nos últimos anos. Para os profissionais de educação, com a nomeação do novo ministro Ricardo Vélez Rodríguez, o desafio é trilhar novos caminhos, ousar fazer diferente e ter um olhar crítico para como as coisas vêm sendo feitas. Mas também o novo ministério tem um desafio: compartilhar e comunicar para os educadores do país a riqueza de novas e eficazes propostas que traz. Existe um diagnóstico de viés ideológico, mas que muitos sinceros educadores não veem. A maioria é sincera quando diz não crer que exista, e com respeito, penso que cabe ao ministério, em diálogo, apresentar as novas referências que, uma vez conhecidas, levarão os próprios educadores a reconhecerem que antes navegavam em uma pequena baía, enquanto um oceano inteiro era possível. O que, ainda que fosse possível, não deveria jamais ser feito, é sugerir que se tratam todos de revolucionários ou ignorantes e tentar conformá-los enfiando goela abaixo remédios que não compreendem. Concordo que o viés está lá, mas é invisível ainda porque há décadas é assim que se educam os educadores no Brasil. 

Creio mesmo, e espero que o novo ministério esteja pensando nisso, que tão importante quanto o ensino básico é a educação dos educadores. Foi aí que eles foram sabotados, duas ou três gerações atrás, por pessoas que precisamente queriam que ensinassem os alunos de forma enviesada, ao mesmo tempo em que o viés lhes fosse invisível. É preciso rever as grades de Pedagogia, promover o estudo e a pesquisa das abordagens que lhes foram negadas. Se antes, quando tudo era um projeto cultural sem perspectiva de poder político imediato, já era importante ter uma ponte que dialogasse com os educadores, agora é imprescindível encontrar alguém que possa, além disso, promover os educadores sem tratá-los como o garoto malcomportado da escola.

A reforma do Enem é de longe a forma mais eficiente de reformar todo o ensino médio

É necessário inserir novos autores e abordagens nos cursos de formação e na formação continuada de todos que trabalham de alguma forma com educação. As pessoas têm de vivenciar outro ethos educacional. É preciso também avançar a partir do que já foi realizado pelo programa Escola sem Partido e falar a sério que, de todas as pessoas, o professor não pode ser o bully. Todos aqueles histéricos que apareceram em vídeos de YouTube buscando humilhar seus alunos em sala de aula por causa de ideologias políticas, mas também por outros motivos, têm de ser proibidos de lecionar. As escolas devem ser convidadas e treinadas para melhorar seu processo seletivo para prevenir a contratação de pessoas que consideram o abuso moral uma ferramenta de trabalho. O abuso moral cometido por professores contra alunos é dos mais covardes que existem. As áreas de humanas, infelizmente, só serão conscientizadas no longo prazo e com uma reforma radical de pelo menos uma universidade federal para ser transformada em centro de excelência, atraindo alunos e profissionais como efeito desse novo ethos. A reforma do Enem é de longe a forma mais eficiente de reformar todo o ensino médio de uma paulada só, já que várias escolas utilizam o exame como referência. Finalmente, é preciso buscar amparo legal para a escolarização no lar além de treinar profissionais de educação que possam produzir material de apoio e cursos de acompanhamento para pais e interessados.

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O fundamental é transformar o profissional da educação no Brasil em um parceiro. Ele está desconfiado, suas fontes mais próximas dizem para ele que tudo vai dar errado porque as posições do governo são ideológicas e as deles científicas. Mas é preciso demonstrar que isso não é verdade, e ganhar-lhes a confiança através de comunicações, eventos, congressos, treinamentos, enfim, ajudar a melhorar o trabalho do educador com as ferramentas que o novo ministério tem a oferecer. O governo não é mais oposição. E a vasta maioria das pessoas que trabalham nas instituições são colegas e potenciais parceiros, que podem até mesmo vir a vestir a camisa. Mas essa não é uma confiança que vem de graça; e precisa ser conquistada.

Fábio Leite é formado em Letras pela UFRJ, com MBA em Gestão de Projetos pela FGV e está concluindo Mestrado em Teologia Ortodoxa no Seminário Holy Cross em Boston.
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