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Receber de braços abertos nossos visitantes da Copa apenas por mera simpatia, cordialidade e boa convivência, não é tudo.Aliás, hospitalidade é oposto íntimo de hostilidade, movimento que cresce nesses últimos dias em nossas cidades, a propósito das mazelas sociais e econômicas, temperadas por uma corrupção doentia que não aguentamos mais. Pois, como servir bem se a vontade é de protestar e lutar contra injustiças tão evidentes?

É difícil ser hospitaleiro, quando na própria casa do anfitrião as coisas não vão bem, se falta educação, saúde, segurança e infraestrutura, agravados por altos índices de ineficiência, desperdícios e negligência governamental. Torna-se difícil explicar aos mais exaltados que desde a primeira dinastia babilônica, a hospitalidade é algo próximo do dever de solidariedade e cortesia, somada ao prazer do convívio social.

Todavia, o suíço Jost Krippendorf, em seu livro Sociologia do Turismo, afirma ser possível atingirmos um estágio mais "suave e humano", gerando iniciativas para tornar o convívio com as pessoas, seja dentro de casa, nas escolas ou no recinto de trabalho, em um ambiente mais gentil e hospitaleiro.

Bons tempos quando os proxenos (gregos indicados para receberem os estrangeiros por ocasião da Olimpíada) tratavam a todos os visitantes como deuses. Durante a pax romana, os viajantes eram bem acolhidos e chamados de hospes, daí hospedagem; hóspede e hotel, dentre tantas derivações.

Já o final do século 19 e todo o século 20 são marcados pela profissionalização desta ação humana, como bem observa o professor Alain Montandon da Universidade de Clermont II, em O Livro da Hospitalidade. O que antes era costume sobreveio – hoje – como um importante setor da economia mundial – geradora de empregos e responsável por formidável distribuição de renda, abrangendo hotéis; hospedagens alternativas, agências de turismo receptivo, empresas e centros de eventos, restaurantes e bares, centros de atendimento ao turista, entre outros serviços de turismo e lazer.

A hospitalidade tem se tornado uma ferramenta poderosa e estratégica, especialmente quando observada sob o prisma do marketing, ferramenta capaz de apresentar soluções criativas às mutações do mercado. Só em 2013, mais de 1 bilhão de pessoas no planeta se beneficiaram desta atividade, quando afastados de suas residências.

Ora, não é justo que as empresas de turismo, eventos e gastronomia estejam trabalhando arduamente desde 2009 (ano da captação da Copa) para melhorar este setor que recebe mais de 3,5 milhões de visitantes em Curitiba e região metropolitana, respeitando os critérios de tangibilidade, credibilidade, responsabilidade, garantia e empatia, para ao final serem vencidos por uma onda de insatisfação que poderia, muito bem, ser tolerada até as urnas em outubro. Momento oportuno para as cobranças tão necessárias.

Quanto à afamada "Curitiba, a Fria", do jornalista pernambucano Fernando Pessoa Ferreira ao se referir ao estereótipo de "chato" do curitibano (eu diria tímido, introspectivo, exigente e orgulhoso de sua cidade), pode de vez ficar no passado, ao assumirmos como cidadãos a corresponsabilidade por defender nossa imagem (questionada internamente) de cidade inovadora, global, ecológica e hospitaleira.

Em Curitiba, o maior legado da Copa deverá ser a hospitalidade!

Dario Luiz Dias Paixão, professor da Universidade Positivo e da UFPR, é presidente do Curitiba, Região e Litoral Convention &Visitors Bureau.

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