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Em um mar de críticas e superficialidades que vêm inundando o cenário eclesial, prefiro ficar com o que está próximo, com o essencial, com o que, de fato, posso chamar de experiência eclesial. A paróquia é o espaço do encontro e da fraternidade, lugar aonde as pessoas vão para revigorar sua fé, aprofundar sua espiritualidade e aproximar-se das realidades divinas. É o lugar de viver uma "comum unidade". Dali todos saem revigorados e com compromissos concretos para transformar a realidade. É um grande mistério: participar da comunidade é uma fonte inesgotável de vida, de aprendizado e de ação.

É impressionante acompanharmos o cotidiano de uma paróquia ou comunidade que, como a extensão da família, torna-se um ponto de apoio, um referencial de valores.

"A semana é sempre cheia. São crianças que vêm para a catequese, jovens casais que vêm conversar sobre seus casamentos, seu futuro, suas expectativas e seus sonhos, são bodas de prata, de ouro, de diamante, que é impossível não se emocionar; crianças recém-nascidas trazidas para o batismo. Como é bom ver a alegria e esperança que paira no olhar dos pais e padrinhos; também vemos pessoas que vêm procurar uma mudança de vida através da confissão, sedentos de Deus; pobres que já bateram em todas as portas e ninguém os atendeu, chegam ali na esperança de que consigam alguma coisa; casados, recasados, desquitados, ajuntados, amontoados, divorciados, brigados, amigados ou sei lá o nome que pode ser dado para a situação conjugal de alguns. Bom, isso não importa. O que importa é que a igreja é o espaço do desabafo, onde se procura a paz, a concórdia, o acordo, o perdão, a reconciliação ou até mesmo a descoberta inevitável de que um casamento foi nulo", diz um padre sobre sua experiência paroquial.

Na igreja é possível conversar sobre tudo, pois é o lugar da misericórdia, onde se acredita num Deus que se fez homem, muito perto de nós e que conhece nossas alegrias e angústias, um Deus que é amor. E assim vão as semanas, uma atrás da outra, e o tempo passa. Não podemos deixar de ficar atônitos ao ver aquelas senhoras e senhores, voluntárias e voluntários, que toda semana doam de seu tempo para projetos de caridade, sem exigir nada em troca. Eles nos dão uma lição de persistência e perseverança impressionantes. Visitam os doentes com carinho, dedicação e muita paciência para ouvir e ser uma presença na hora da tristeza, nos prantos e também na cura. Na igreja, experimentam-se momentos de oração, de sintonia com o sagrado, novenas, terços, adorações e incontáveis devoções. Também há luto e saudade quando se perde alguém que se ama. É lugar de consolo, de alívio, de paz.

Para os que têm uma família, a igreja é uma extensão do afeto que se tem em casa. Para os que não têm família, a comunidade é o espaço para preencher esse vazio. O dia-a-dia de uma paróquia, qualquer que seja ela, é construído sobre o alicerce do Cristo, nossa rocha, que nos mandou amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ele nos ensinou a rezar uma oração em que o chamamos de Deus de Pai, com o compromisso de perdoar as ofensas e dívidas do outro para nos sentirmos irmãos e filhos de Deus.

Jesus ensinava com simplicidade, na realidade concreta da vida de seus apóstolos. Sabia exatamente seus medos e angústias, mas ao mesmo tempo valorizava cada um a partir de seus talentos. E continua a nos congregar em torno do amor, que é a única coisa que não passa neste mundo, pois é a chave para entrarmos no céu (Mt 22, 34-41; Mc 12, 28-34; Lc 10, 25-37) e o sinal para sermos reconhecidos como seus discípulos (Jo 13, 34-35) .

Para alguns é superinteressante divagar numa fantasia e num imaginário coletivo sobre uma Igreja hierárquica, cheia de segredos, onde existem planos obscuros; estrutura moralista, uma história cheia de sombras. Insistem numa leitura unilateral e ultrapassada. Constantemente vejo essas notícias e esses programas obsoletos que têm sempre o mesmo discurso vazio e desatualizado do verdadeiro e atual rosto da Igreja. Ou não conhecem nada e se fixam em focos isolados na história, ou simplesmente querem vender notícia e ganhar a atenção da mídia.

Não é possível falar de uma Igreja só hierárquica; não é possível falar de uma Igreja só moralista e não conseguimos percebê-la só como organização social. Só quem vive dentro dela e por ela experimenta o sagrado, o transcendental e, ao mesmo tempo, o que há de mais humano, é capaz de perceber que não se pode falar da Igreja somente como mera instituição humana. Ser Igreja extrapola a mera análise fria de uma instituição antiga e passa a ser uma experiência estonteante do divino e eterno, presente no tempo e no espaço humanos. Ser Igreja é mais do que estar na igreja, ir à igreja ou até analisar a Igreja. Ser Igreja é fazer uma experiência de comunidade, de uma família maior que se compromete com Deus e com o próximo sem exigir nada em troca: é acreditar no amor.

Estar nas capas de revistas, nas manchetes dos jornais, nas telas de televisão, nos blogs, nos microfones das rádios, nos números das pesquisas ou em qualquer outro lugar que a destaque pode até desviar a atenção dos mais distraídos, mas não diminui em nada aquilo que a Igreja tem na sua essência: "Em Cristo, luz dos povos, ela é o sinal e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano".

Pe. Ricardo Hoepers é mestre em Educação pela PUC/PR.

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