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Na estrada de terra vermelha que ligava a cidade de Braúna, interior de São Paulo, à aldeia centenária do Icatu, da qual meu avô foi um dos pioneiros, meus pensamentos voavam distante para encontrar maneiras de melhorar a vida do meu povo. Meu pai mudou o destino de nossa família ao trocar o som dos grilos e passarinhos e a tranquilidade da aldeia pelo som dos carros e pela selva de Pedra em Curitiba. Já na cidade, dentro do ônibus a caminho da faculdade de jornalismo, os mesmos pensamentos eram recorrentes.

O périplo diário começava quando o dia ainda não havia amanhecido. Minha mãe cozinhava dois ovos e o café estava quentinho sobre a mesa para que eu pudesse enfrentar a jornada diária de dez ônibus por dia para ir e voltar à Universidade. Na hora do lanche, tinha que optar por um salgado ou por um suco. O dinheiro não dava para os dois. Foram dias difíceis, mas no fundo eu sempre soube que havia um propósito.

Eu sabia que tinha que usar minha formação para ajudar o meu povo. Em Curitiba, ao lado do cacique Carlos Karjer e outras lideranças indígenas importantes, fundamos Kakané Porã, primeira aldeia indígena urbana do Sul do Brasil, que completou dez anos em 2018. Concluí também uma pós-graduação em Cinema e, em 2019, meu documentário que denunciava a prática do infanticídio escondida pelo governo do PT, completa dez anos. O filme me rendeu, à época, o Prêmio Internacional Jovem da Paz. Com a iniciativa conseguimos salvar a vida de crianças indígenas que até então tinham o seu choro abafado.

Os povos indígenas não querem mais viver de doação, querem produzir

Faço este relato para dizer com legitimidade que este governo é de inclusão. Pela primeira vez na história do Brasil, uma mulher indígena, que concluiu o ensino médio em Escola Pública, assume a Secretaria Nacional de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Quando recebi o convite de uma mulher apaixonada pelos povos indígenas para assumir esta missão, a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, eu sabia que havia chegado o momento de executar o melhor governo da história do Brasil para os povos indígenas. Por muito tempo, fomos subjugados. Nosso povo foi escravizado por ONGs e partidos políticos que queriam nos deixar em uma redoma. Não era raro ver imagens do nosso povo sendo associadas com o governo anterior, mas nas aldeias os parentes estavam passando fome.

Não tenho medo em errar ao dizer que o governo do PT foi o pior período para os povos indígenas. No dia 28 de dezembro de 2009, no apagar das luzes, faltando poucos dias para findar o ano, o então presidente Lula assinou o Decreto 7056 que sucateou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e, desde esse decreto, não se viu uma semente para plantio em nossas aldeias. Um exemplo próximo é o estado do Paraná, que desde este período não tem um centavo de recursos e precisa se reportar às administrações do órgão em Santa Catarina. Foram tempos obscuros na política indigenista. ONGs recebendo milhões em recursos e nossas aldeias definhando. Mas este tempo acabou.

Leia também: Um massacre de indígenas no Amazonas (artigo de Rodrigo Berté, publicado em 14 de setembro de 2017)

Leia também: Todos contra Damares (artigo de Francisco Augusto Garcia, publicado em 14 de janeiro de 2019)

O presidente Jair Bolsonaro nos deu autonomia para libertar os povos indígenas desta mazela social e ideológica que outrora foi imposta. Os povos indígenas não querem mais viver de doação, querem produzir. Um exemplo de sucesso é o povo Pareci, do Mato Grosso, que fez uma grande colheita de soja, mas foram multados em R$ 139 milhões, em 2018. O presidente deixou claro ontem que isso não vai mais acontecer no Brasil. E, a partir de agora, os povos indígenas terão autonomia em sua produção, além de apoio do governo. Nosso subsolo contém muitas riquezas e, por décadas, ONGs persuadiram nossos parentes a não explorarem as riquezas naturais que estão nas terras indígenas. Mas, nosso povo é guardião das florestas.

Sabemos de forma tácita explorar sem prejudicar o meio ambiente. Por séculos nosso povo sobreviveu da caça e da pesca. Isso, porque sempre foi feito na medida correta, sem exagero, assim também deve ser neste novo ciclo. Este governo quer dialogar com os indígenas nas aldeias, na base. O General Franklimberg já está em processo de fortalecimento da Funai nas bases. Este governo não quer intermediários, quer investir direto nas aldeias. E este também é o desejo das lideranças tradicionais. Eles não querem que ninguém mais fale por eles. E nós vamos dar voz aos indígenas. Literalmente dar a vara de pescar. Não queremos falar de problema, mas de solução. Vamos retirar o nosso povo de uma escuridão. Vivemos em um país lindo, rico e maravilhoso. Os maiores aquíferos estão sobre nossas terras. Temos de resgatar o orgulho de ser indígena. Lutar pela interação do nosso povo. A partir de 2019, a Funai será a casa do indígena. Por meio da agricultura, etnoturismo, projetos de empreendedorismo, vamos fazer um governo de inclusão, de diálogo e de respeito aos povos originários deste país.

Sandra Terena é indígena do povo Terena e secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. É formada em Jornalismo e pós-graduada em Comunicação Audiovisual. Ganhadora do prêmio internacional Jovem da Paz pelo documentário Quebrando o Silêncio.

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