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Ao assistir pela televisão às insanas agressões das quais foi vítima a blogueira cubana Yoani Sánchez em Salvador e em Feira de Santana, na Bahia, me senti atacado naquilo que mais prezo: meu direito de cidadão. De todos os prejuízos, o pior que uma nação pode causar a uma pessoa é a supressão de seus direitos. Por isso, o Brasil, com os atos infelizes praticados contra uma suposta "inimiga" do regime castrista e não do país cubano, foi reduzido ao que chamavam de "republiqueta de banana".

Lembrei-me de uma viagem de 20 dias que fiz a Cuba, em companhia de minha filha, que participou de uma competição de ginástica olímpica. Ficamos hospedados em um hotel dentro da Vila Panamericana, em Havana. Um professor universitário cubano que acompanhava os treinos comigo solicitou-me se poderia dar a ele as sobras do sabonete que usávamos, pois conseguir o produto era muito difícil e caro para ele.

Outro exemplo me deixou abismado: tentava contratar um técnico de ginástica olímpica para que viesse ao Brasil treinar minha filha e eventuais interessados. Eu lhe ofereci um salário de US$ 1,5 mil, além de aposentos e alimentação. Ele demonstrou preocupação com o montante que receberia e acrescentou que, desse total, restariam-lhe apenas US$ 400 – o resto iria para o governo cubano. Fez as contas e desconfiou que o saldo seria pequeno para que, em dois anos de trabalho, ele conseguisse realizar seus sonhos: ter condições de comprar um ventilador e uma bicicleta para levar de volta a Cuba. Testemunhei coisa pior naquele país, dentro da vila olímpica: a prostituição quase generalizada, tanto masculina quanto feminina. Por US$ 1. Era questão de sobrevivência.

Mas o pior de tudo na ilha era a privação da liberdade, imposta por um governo que já dura mais de meio século. Por isso, manifestações como a ocorrida no Brasil, país que ensaia consolidar o regime democrático depois de décadas de exceção, revoltam, mostram um atraso condenável. A própria Yoani, de quem se pode discordar, mas de quem não se pode suprimir o direito de defender seus pontos de vista, revelou sua surpresa: "Foi como se os insultos tivessem sido orquestrados por terroristas. Sou uma pessoa pacífica e trabalho com o verbo, não tinha por que tanta agressividade".

Em Feira de Santana, o senador petista Eduardo Suplicy foi um dos poucos a demonstrar bom senso e pedir aos irados, irresponsáveis e pretensos revolucionários para deixarem que se fizesse a exibição de um documentário e que a blogueira pudesse proferir sua palestra. O mesmo parlamentar fez, no Senado, uma defesa veemente da liberdade de expressão. Ele também recomendou à cubana que ela, em sua visita aos Estados Unidos, dissesse ao presidente Barack Obama para que ele acabasse com o bloqueio americano contra Cuba. Esse é o exemplo de quem preza, verdadeiramente, os direitos das pessoas e o desenvolvimento humano.

É o contrário do que fizeram esses grupelhos com o despropósito fanático de suas atitudes agressivas. Imaginem se esses exemplos extremistas se espalharem pelo país em defesa das mais atrasadas ditaduras do mundo! Ninguém que propague a liberdade de expressão, o direito à cidadania e o respeito aos princípios constitucionais conseguirá defender a sua ideia condignamente. Mesmo um desses ditadores que desrespeitam esse elementar direito – Fidel Castro, por exemplo – tem o direito e deve ter espaço para defender sua ideologia em nosso país, sem ser física e moralmente agredido. Se vamos concordar com ele, é outra conversa.

Marcos Domakoski, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).

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