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Uma das pinturas da séria “Memória”, de René Magritte.
Imagem ilustrativa.| Foto: Reprodução

Há algo de errado nos valores praticados por parte da sociedade brasileira quando percebemos que o machismo e as agressões nas suas diversas formas contra mulheres, crianças e jovens são aceitos, normalizados e justificados pela população. Quando as pessoas naturalizam o preconceito, a discriminação e a concretização de crimes. Como sociedade, não podemos aceitar este cenário. Precisamos buscar as crenças e os valores comuns.

Claramente, há o problema de se sentir e acreditar ser superior do que o outro ou de saber melhor o que é certo, bom e justo. O burro, o ignorante, o vilão, o mal estão sempre do outro lado. Busca-se impor ao outro o seu ponto de vista e o debate construtivo perdeu o seu lugar. Com isso, vivemos num modelo competitivo caracterizado pela falta do senso de comunidade e de respeito ao próximo. E isso não traz benefício algum para o Brasil, nem para a localidade onde vivemos.

Não é defensável tratar um ser humano como objeto ou mercadoria, que pode ser vendido e forçado a realizar trabalhos e ações contra a sua vontade.

Limites estão sendo ultrapassados. Não é possível que, ao conhecer todas as atrocidades cometidas pelo nazismo, algum brasileiro ainda considere normal promovê-lo. Naquele regime, pessoas foram mortas e torturadas, incluindo crianças e bebês. Famílias foram destruídas e ativos foram saqueados e tomados à força. Livros foram queimados. Essa ideologia exalta a raça ariana. Logo, o povo brasileiro, que é miscigenado, não seria aceito, tampouco bem-visto. Por isso, é de total incoerência um brasileiro apoiar tal regime. E vale lembrar que o Brasil lutou na guerra contra os nazistas.

Da mesma forma, não tem como simpatizar com a escravidão, nem com o racismo e nem com a discriminação. Não é defensável tratar um ser humano como objeto ou mercadoria, que pode ser vendido e forçado a realizar trabalhos e ações contra a sua vontade. É triste perceber que a cor de pele de uma pessoa justifica um tratamento diferenciado, inclusive no condomínio onde se mora. E como não se indignar com comentários que associam o Nordeste com burrice e preguiça, um lugar que serve apenas para passar férias? E, ironicamente, essa mesma pessoa que critica o Nordeste, vai torcer na Copa por jogadores nordestinos, vai consumir produtos fabricados por empresas ou utilizar um app desenvolvido nesta região.

Na mesma linha, não podemos considerar aceitável abusos e exploração sexual de menores em razão da pobreza, da fome ou pelo fato de a criança ser indígena e não de uma classe social abastada dos grandes centros. Continua sendo uma criança, uma vítima. Não podemos ignorar a importância de ensinar a criança a se proteger da violência e de abusos, inclusive os sexuais. Criança não namora! Além disso, as cenas de agressões físicas contra crianças continuam a aparecer no noticiário, cometidos por pais ou seus pares, aqueles que deveriam protegê-las. E por que, como sociedade, ainda falhamos com elas?

A disputa política contaminou o ambiente escolar, de modo que apontar o dedo ao colega acusando de ser de esquerda ou direita virou motivo para perseguições, discriminações e agressões. E isso inclui o ensino infantil e os primeiros anos do fundamental, sendo que criança não vota. E no caso dos adolescentes, certamente falhamos com eles quando não orientamos que injúria, injúria racial e apologia ao nazismo são crimes, inclusive no mundo virtual. Falhamos com os estudantes quando não asseguramos que a escola seja um lugar seguro, sem o risco de bullying ou de levar um tiro.

Precisamos ensiná-los o caminho do diálogo, da reflexão e da convivência harmônica e, principalmente, segregá-los dos vícios e das negatividades próprios do mundo adulto, e permitir as condições necessárias no ambiente escolar para que o aprendizado de fato aconteça. É fundamental a parceria genuína dos pais com os professores e toda a equipe pedagógica.

Não podemos aceitar a intolerância, nem a violência. Não há justiça com o cometimento de crimes. Precisamos defender a ética como ponto comum, o diálogo e a busca de soluções. É urgente promover a educação, o senso de coletividade e proteger as crianças e adolescentes de qualquer tipo de agressão promovida por adultos. A ética não é seletiva, tampouco por conveniência, e deve se fazer presente sempre.

Jefferson Kiyohara é diretor de compliance e sustentabilidade da Protiviti.

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