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Não é de hoje que os atletas brasileiros precisam dar explicações a repórteres ao final de cada prova olímpica. A falta de conhecimento da população e dos próprios repórteres, sobre cada modalidade traz ainda mais inconformismo pela aparente falta de resultados satisfatórios.

Critica-se pelo investimento feito, pela falta de incentivo e trabalho nas categorias de base, a falta de estrutura e o desperdício de tantos talentos espalhados pelo nosso exuberante território. O técnico ruim, não se dedicou, não têm preparo psicológico, etc. A cada Olimpíada a mesma história, o mesmo despreparo de quem está na posição de julgar aqueles que defendem o país.

Se não for medalha de ouro, não serve. Se for prata, “foi por tão pouco”, se foi bronze, “coitado”. Quarto lugar então, “um azarado”. A produtividade do atleta brasileiro não está diferente da minha, da sua, da nossa, enquanto profissionais. Não vou nem comentar como atletas que não somos, já que mais da metade dos adolescentes e adultos estão acima do peso e muito perto de problemas cardíacos e diabetes.

Nós, profissionais brasileiros, com resultados cinco vezes piores que os norte-americanos e europeus em produtividade, estamos exigindo o que dos atletas brasileiros? Que eles façam o que não temos capacidade de fazer? Com que moral se critica um atleta olímpico se precisamos de cinco dias para produzir o que um norte-americano faz em um? Desculpem, mas precisamos de um espelho para refletir sobre as verdadeiras causas de tudo isso. O problema é muito maior e reflete o que temos focado para nós mesmos.

Ok, se a comparação com os norte-americanos e europeus não é justa, já que são países de primeiro mundo, vamos comparar o nosso desempenho com nossos vizinhos Colômbia, Chile e Peru, ou mesmo com a emergente Índia, África do Sul e Rússia. A nossa competitividade está abaixo destes seis países. Aliás, pelo último ranking divulgado em maio, somos apenas mais produtivos que Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela. É, estamos bem piores que os nossos atletas. Isso vale para a nossa indústria, serviços, saúde e com todo respeito, também aos milhões de profissionais servidores públicos.

Em outra pesquisa, divulgada no livro de Gary Hamel, O que importa agora – como construir empresas à prova de fracassos, entre 90 mil trabalhadores pesquisados, somente 21% dos empregados pesquisados estavam realmente engajados no trabalho, no sentido de que “fariam aquele esforço extra” pelos empregadores. Outros 38% estavam em grande parte ou totalmente desengajados, enquanto o restante se enquadrava num tépido meio-termo. Estes dados são relativos aos profissionais de 18 países, incluindo o Brasil.

E o que está por trás disso? Historicamente aceitamos uma educação de má qualidade, baixo investimento em ciência e pesquisa. Enquanto a maioria dos países já descobriu há anos que investimentos nestas áreas determinam o futuro, nós estamos preocupados com ter ou não carros oficiais, cargos e mais cargos, com o poder sem ser, com as regalias e foros privilegiados, com as novelas e se deveria ou não ter a “Voz do Brasil” todo santo dia no rádio às 19h, ou mesmo se os atletas bateram ou não continência no pódio (que diferença isso faz?). Acreditamos que “na hora damos um jeito”. Jeito? Quando se faz da mesma maneira, não há com obter resultados diferentes.

Coincidência ou não, um dos setores com maior investimento em pesquisa no país, o do agronegócio, nada de braçada: somos ouro, prata e bronze em várias categorias! Seja um agricultor e “tente dar um jeito na hora”, veja o que acontece...

E você, está sendo produtivo e competitivo neste momento? Quantas vezes você já ficou em primeiro lugar do país no que faz? E do mundo? Fica a reflexão.

Eduardo Müller Saboia é técnico e engenheiro industrial mecânico e mestre em Administração Estratégica.
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