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| Foto: Ronen Zvulun/AFP

O mundo parou para assistir ao discurso do presidente norte-americano, Donald Trump, reconhecendo oficialmente a cidade de Jerusalém como a capital de Israel. Após o anúncio, alguns países seguiram os passos do presidente americano e fizeram o mesmo. Em alguns pontos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, protestos de palestinos foram registrados.

A medida simbólica do reconhecimento por parte dos Estados Unidos não muda quase nada na prática e na dinâmica da vida cotidiana em Israel, na sua capital ou, ainda, no processo de paz entre israelenses e palestinos. Jerusalém é a sede dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo; lá estão as residências oficiais do chefe de Estado e de governo, e é também nessa cidade que eventos governamentais e oficiais são realizados. Assim, para as pessoas que moram lá, nada mudou.

A administração israelense transformou uma cidade dividida em uma das mais vibrantes e significativas

Então, para que serve o reconhecimento? O presidente norte-americano cumpriu uma promessa presidencial de 25 anos. Desde Bill Clinton, em 1992, todos os presidentes americanos prometeram, em campanha eleitoral, que, se eleitos, reconheceriam a cidade como capital de Israel e mudariam a embaixada, localizada em Tel Aviv – maior centro urbano do país –, para Jerusalém. Porém, após assumir o mandato, todos os ex-presidentes adiaram a decisão por “questões de segurança”. Na verdade, os ex-presidentes não queriam “atrapalhar” o possível resultado de um processo de paz interminável entre palestinos e israelenses.

Trump, um negociador por excelência, entendeu que as mesmas ações não trarão resultados diferentes. Israelenses e palestinos não negociam diretamente há oito anos, passaram por três conflitos em Gaza e não há perspectiva de negociação no futuro próximo. A partir dessa lógica, o presidente americano decidiu fazer um reconhecimento histórico em nome dos Estados Unidos, fortalecendo a posição israelense em relação às suas demandas para com a cidade, objeto de desejo dos palestinos para ser também sua futura capital.

Leia também: Jerusalém, da história à Unesco (artigo de Szyja Lorber e Leon Knopfholz, publicado em 20 de outubro de 2016)

Leia também: Trump e o significado da visita a Jerusalém (artigo de Szyja Lorber, publicado em 27 de maio de 2017)

Desde 1949, Israel estabeleceu sua capital em Jerusalém Ocidental. A Cidade Velha e os bairros adjacentes a leste da cidade foram ocupados pela Jordânia. Após a Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou essa porção da cidade e, em 1981, aprovou a “Lei Jerusalém”, redesenhando as fronteiras municipais, anexando a Cidade Velha e oferecendo cidadania a todos os seus residentes. Enquanto a Cidade Velha estava com a Jordânia, entre 1949 e 1967, judeus eram proibidos de atravessar seus muros e rezar nos locais mais sagrados do judaísmo.

Com a unificação, a cidade se modernizou, cresceu, abriu as portas para todas as religiões praticarem sua fé livremente, transformando uma cidade dividida em uma das mais vibrantes e significativas.

Em 2017, assim, os Estados Unidos reconheceram a realidade e corrigiram um erro histórico e sucessivo de diversos países. O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel envia uma forte mensagem aos palestinos: a de que a falta de negociações de paz com Israel tende a ser negativa para seus próprios interesses.

André Lajst é cientista político e especialista em estudos israelenses.
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