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Seu exemplo de dignidade, desprendimento, resistência, de sua extrema vontade de viver e de servir ao seu país se refletirá por várias gerações

Tivemos um cidadão que deveria receber dos paranaenses (e de todos os brasileiros) mais do que reconhecimento. Deveríamos, como fez a prefeitura de São Paulo, conceder-lhe uma honraria igual à Medalha 25 de Janeiro ou a cidadania honorária de nosso Estado, mesmo in memoriam, pois, além de tudo que ele fez em benefício do Paraná, foi uma mostra do Brasil que dá certo, com coragem, luta e determinação. José Alencar, falecido ontem, merece todo o estoque de homenagens que nosso Estado e nosso País puderem prestar.

Tive contato com ele pela primeira vez em 2002, quando de sua participação, em Curitiba, do Congresso Nacional do Conselho Nacional de Jovens Empresários, do qual a Associação Comercial do Paraná, que eu presidia na época, foi anfitriã. Alencar foi palestrante de honra e iniciamos uma amizade de bons resultados tanto pessoais como para o Paraná.

Ele foi um exemplo de cidadania e de resistência. Começou a trabalhar aos 7 anos e aos 18 iniciou-se no mundo empresarial, abrindo a loja A Queimadeira, em Caratinga (MG), com dinheiro emprestado de seu irmão mais velho, Geraldo, a quem pedira "alugado" 15 mil cruzeiros. Ele me contou que o termo "alugar" era usado em face dos juros serem mais altos do que os cobrados no mercado para empréstimos. Talvez viesse daí a sua aversão à política econômica do então ministro da Fazenda, Antonio Paloci, com quem revelou discordância pública, de manter os juros altos na tentativa de conter a inflação e controlar prováveis distorções da economia. Em 1967, Alencar criara a Coteminas, no setor têxtil, um verdadeiro império e que o consolidou de vez como um grande empresário, sempre se posicionando contra círculos viciosos da economia.

Por ter sido presidente da Associação Comercial e da Federação das Indústrias de Minas Gerais, falávamos a mesma linguagem e nos aproximamos de vez por sua luta contra seu câncer. Entendíamos e entendemos que fé, espiritualidade, religiosidade, coragem e determinação são elementos imprescindíveis para a superação desse obstáculo. Ao longo desses anos, foi submetido a 17 cirurgias e a todas resistiu com coragem e bom humor. No Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, quando de sua cirurgia mais recente, me disse, com bom humor: "Se Deus quiser me levar não precisa de câncer para fazê-lo. E se não quiser me levar, não é um câncer que o fará".

Ele sempre encarou com realismo e fé os desafios da vida. Ao longo de seu mandato como vice-presidente, manteve as portas abertas para as demandas paranaenses, de forma apartidária. Entre outras, atendeu a uma reivindicação do Hospital das Clinicas da Universidade Federal (HC). Solicitou do ministro da Saúde na época, José Gomes Temporão, a solução para a falta de um medicamento usado por mais de 200 pacientes, que não estariam vivos sem essa medicação. Foi também decisivo na solução da questão da multa do Banestado, ao receber a visita do então governador do Paraná, Orlando Pessuti. Concedeu audiência à hoje senadora Gleisi Hofmann para tratar de um dos nossos antigos sonhos, a implantação do Tribunal Regional Federal.

Atendeu os poloneses, em especial consideração ao Paraná, que tem a segunda colônia polonesa do mundo fora de seu país. Esteve, por mais de uma vez, com o embaixador polonês para incrementar as relações comerciais entre os dois países. A cada visita que lhe fiz, sai engrandecido. Em uma das últimas, disse-me: "Acho que chegou a minha hora porque deixar a Vice-Presidência, depois de oito anos, e ter a maioria dos brasileiros ao meu lado deve representar que já cumpri meu papel nesta Terra". Discordo dele. Seu exemplo de dignidade, desprendimento, resistência, de sua extrema vontade de viver e de servir ao seu país se refletirá por várias gerações.

Marcos Domakoski, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.

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