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A última visita do presidente Lula ao Paraguai suscitou uma série de comentários que matizam com realidade míope o sentimento de alguns países que participam do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Esse sentimento está ligado ao caráter hegemônico que a política de relações externas do nosso país tenta impor na América Latina e que lhe causaram uma série de custos – prejuízos da Petrobrás na Bolívia e na Venezuela, altos custos do envio de tropas de paz ao Haiti, perdão de algumas dívidas latino-americanas etc. Nessa visita, uma parte da imprensa paraguaia chamou o Brasil de "país imperialista e explorador" que leva "espelhinhos" aos povos pobres, em alusão às quinquilharias trazidas pelos conquistadores europeus para conquistar a América. Não é de hoje esse tipo de manifestação. No âmbito do Mercosul, o Uruguai também fez sentir sua discordância no bloco, ameaçando partir para uma bilateralidade diante da "falta de percepção de benefícios da integração regional". Os uruguaios, insatisfeitos com um déficit de US$ 400 milhões no comércio com o Brasil, e com a falta de apoio brasileiro na controvérsia que travam com os argentinos em torno da instalação de fábricas de celulose na fronteira entre os dois países, conseguiram com que o presidente Lula se comprometesse a realizar uma série de concessões econômicas, tudo em prol da liderança da América Latina. As grandes perguntas a serem feitas são: Vale a pena continuar com essa política? E o que ganhamos com isso?

Se depender do protagonismo pela liderança regional, pode-se dizer que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, consegue abocanhar maiores feitos dentre os irmãos latino-americanos; seu governo comprou bônus da dívida argentina, prometeu fazer o mesmo com a dívida uruguaia, ajudou estrategicamente no processo de nacionalização do gás boliviano, apóia diretamente o nacionalismo equatoriano e até no Brasil patrocinou a escola de samba Unidos de Vila Isabel, campeã do carnaval de 2006.

O Brasil é, disparadamente, mais desenvolvido que seus pares latino-americanos e possui uma indústria forte que, em alguns setores, concorre diretamente com multinacionais de ponta. A produção brasileira interessa muito aos grandes atores internacionais, faz parte dos países promissores (BRIC, grupo que designa Brasil, Rússia, Índia e China) e candidatos para o desenvolvimento. Todas essas características foram conseguidas à base do esforço de um Estado desenvolvimentista que, na época, foi muito importante para consolidar a sua industrialização. Há diferença em relação a outros países latino-americanos que viram passar uma série de governos confusos, sem direção desenvolvimentista e com alto grau bélico, inclusive, no âmbito regional.

Essa diferença de estágios de desenvolvimento não colocam sobre as costas do nosso país a obrigatoriedade de sermos salvadores de pátrias alheias. Diferentemente de países dominantes, o Brasil sempre foi solidário e conciliador em muitos casos. Sua política de relações internacionais sempre foi pautada por um alto grau de solidariedade na região. Todos esses motivos seriam suficientes para desmistificar essa visão atrasada que alguns países latino-americanos têm sobre o Brasil. O problema é que a nossa atual política de relações exteriores incentiva a essa visão deturpada, colocando em discussão propostas de integração regional que, antes de serem iniciadas, dão mostras de fracasso – integração do Sul, criação do Banco do Sul etc.

De tudo isto podemos dizer que é injusta a imagem imperialista que alguns países fazem do Brasil, mas também podemos afirmar que nós mesmos incentivamos em parte essa miopia.

Hugo Eduardo Meza Pinto é doutor em Integração da América Latina pela USP, coordenador pedagógico das Faculdades Integradas Santa Cruz e professor do Unicenp.

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