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Imagem ilustrativa.| Foto: Elza Fiúza/ABr

“O inferno são os outros”, já dizia Jean -Paul Sartre (1970).

Imagine que seu vizinho, seu pai ou seu irmão, resolvesse, sem te consultar, trocar as flores de seu jardim e pintar sua casa de outra cor.

Imagine que sua esposa ou seu marido, mesmo te consultando resolvesse, sempre, que sua ideia não é a melhor e que, portanto, em sua casa a cor seria sempre verde e o jardim sempre só de uma única flor.

Imagine que de todos os times de futebol você obrigatoriamente tivesse que concordar que apenas um é realmente bom. Mesmo que isso implicasse no fim do futebol, no fim dos campeonatos anuais, no fim das torcidas.

O inferno são os outros? No contexto da obra de Sartre, não posso discordar, porém ouso ver o caminho para o céu onde ele situou o inferno.

Imagine que só houvesse, em todo o mundo, um único filósofo realmente sábio e que todos os outros tivessem que ser queimados em uma fogueira. Uma única religião, um único partido político, uma única cultura, uma única moral, uma única impressão digital.

Que mundo estranho seria este? Um mundo totalitário na sua essência. Um verdadeiro pesadelo onde a liberdade de pensar, sentir, empreender seria sempre negada. O inferno não seriam os outros, como diz Sartre, o inferno seria nossa própria vida.

Sim, o convívio com os outros nem sempre é fácil, mas sem dúvida é a única forma de atingirmos o céu possível em nossas vidas.

Sinto muito pelos que temem o futuro, que é sempre uma incógnita. A verdade absoluta, a certeza plena, nunca esteve disponível para os humanos nos longos séculos de nossa história sobre o planeta Terra.

O mundo gira e muda. Sua diversidade de plantas, animais, climas, raças, cores, ideias, é impressionante. O caleidoscópio da vida a cada dia nos traz uma incrível novidade, vive nos surpreendendo.

Nós mudamos, crianças, jovens, adultos, velhos. Nossas ideias mudam para melhor, às vezes para pior. Mudanças, sempre mudanças, e raras vezes uma gostosa calmaria.

Os outros sempre nos incomodam. Se muito pobres, despertam em nós um sentimento de dor pela dor do próximo (em alguns de nós esta dor se manifesta) se muito ricos ou prósperos, despertam, em alguns de nós, a inveja e um sentimento de inferioridade.

O inferno são os outros? No contexto da obra de Sartre, não posso discordar, porém ouso ver o caminho para o céu onde ele situou o inferno.

Sempre vi as diferenças com meus semelhantes como uma rica oportunidade de aprendizado, de possibilidade de ampliar minha capacidade de empatia e alteridade. Acredito que todos queremos uma sociedade onde a liberdade seja possível, onde ninguém passe fome, onde todos tenham trabalho, segurança e respeito ao próximo.

Se concordarmos com o nosso destino comum em direção a um mundo melhor, não temos certeza, temos sim grandes discordâncias, sobre qual o melhor caminho a seguir para se chegar a este mundo sonhado por todos.

Nas próximas eleições, escolha seu candidato, vote de acordo com suas esperanças e crenças. Não se desespere se sua opinião não for igual a da maioria. Nas diferenças vive o mistério e a beleza da vida.

Democracia, liberdade, respeito ao próximo e a opinião da maioria (que pode mudar a cada quatro anos) se constituem no único ponto de apoio que temos em nosso caminho para uma vida melhor.

Oriovisto Guimarães é senador pelo Paraná.

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