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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

A situação das universidades e escolas preocupa. Vídeos, gravações de áudios e relatos nas redes sociais registram a doutrinação feita por professores. E não é só isso: temos os eventos partidários, a ingerência e a partidarização dos DCEs e associações de “alunos” – estudantes profissionais ao soldo dos partidos –, a perseguição ideológica de professores contra alunos não alinhados e vice-versa, as disciplinas dedicadas ao estudo do “golpe de 2016” (leia-se impeachment), as “performances artísticas” e as pesquisas que documentam o viés ideológico de esquerda dos professores, como um levantamento realizado entre professores de História segundo o qual 84,5% deles votam em partidos de esquerda ou centro-esquerda.

A situação é tão grave que as pessoas nem notam o nacionalismo barato, o ambientalismo ideológico e as leituras simplórias da história do país. A inversão chegou a tal ponto que as pessoas acham admirável a politização e o ativismo. Tudo tem de ter um viés político; o incentivo em propor soluções políticas, se posicionar e criticar ganha mais importância que estudar, aumentar o conhecimento, a compreensão, a lógica e a investigação científica. O que importa não é o aluno, a pessoa em si, mas apenas a contribuição que ele pode (deve?) dar à nação e para um “outro mundo possível”.

Não é normal. Não acontece em outros países e não acontecia aqui algumas décadas atrás. Os mais velhos sabem. Filosofia e Sociologia viraram sinônimos de marxismo. Geografia virou geografia política, para depois virar geopolítica, para virar “atualidade” e para os professores poderem dar a própria leitura baseada sempre na mesma visão politizada de tudo. Mais que doutrinação, é uma verdadeira lobotomização. Os únicos a negarem esses fatos são os próprios marxistas, sejam professores ou não.

A inversão chegou a tal ponto que as pessoas acham admirável a politização e o ativismo

A prática de gravar áudios ou imagens do professor em sala de aula não começou por isso. Alunos gravam as aulas por diversas razões: seja como forma de registrar o conteúdo para estudar depois, seja por motivos não tão nobres como prejudicar um professor ou fazer piada dele nas redes sociais ou entre os colegas. Poderíamos não ter gravações, mas continuaremos tendo doutrinação. Portanto, a verdadeira polêmica não é permitir ou não que alunos gravem aulas dos professores, mas é sobre o que fazer com a presença da doutrinação político-ideológica marxista nas escolas e universidades.

Não deveríamos fazer nada a esse respeito? Em nome da liberdade da expressão ou da ideia de que não existe neutralidade ideológica, devemos deixar os professores livres para inculcar em nossos filhos suas ideologias? Se sim, então um professor de Biologia que acredita no criacionismo pode dizer aos alunos que a teoria da evolução de Darwin é coisa de nazista eugenista? A completa liberdade de expressão do professor pode levar, inclusive, a situações em que a ideologia política ou religiosa do professor é contrária à dos pais dos alunos e, nesse caso, poderia levar a deteriorações das relações no meio familiar entre pais e filhos. Devemos permitir isso? Até onde vai a liberdade de expressão do professor? Os pais devem aceitar calados que os filhos aprendam visões que se choquem frontalmente com as suas?

Opinião da Gazeta: O Escola sem Partido e a doutrinação no ensino (editorial de 2 de dezembro de 2018)

Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)

Toda essa polêmica está acontecendo porque não há verdadeiramente liberdade de ensino no Brasil. Se os pais tivessem verdadeiro poder de escolha, a demanda por gravar aulas para denunciar doutrinação ideológica e partidária nas escolas nunca teria surgido. Se os professores marxistas querem sua liberdade de expressão preservada em sala de aula, os pais e os alunos também querem ter sua liberdade reconhecida. É uma questão de liberdade contratual. Cada escola e universidade privada deveria ter a liberdade de se organizar como quiser: escolas evangélicas, escolas construtivistas, escolas marxistas etc. Alunos, pais, famílias e professores escolhem onde se inscrever e onde trabalhar. Isso se chama liberdade acadêmica. Tecnicamente é simples, mas politicamente nem tanto, porque acaba com o controle das ideias por parte do Estado.

O problema já assume outros contornos no caso das escolas e universidades estatais, visto que são mantidas com dinheiro do contribuinte. O professor é um funcionário público e, portanto, sujeito aos princípios da impessoalidade e transparência da administração pública. O pagador de impostos deve ser obrigado a financiar toda esta situação mesmo se não concordar? Ou as aulas se tornam as mais neutras possíveis, ou que as universidades se tornem economicamente independentes.

Rodrigo Constantino: Desgraça acadêmica: há método na loucura (publicado em 31 de outubro de 2017)

Leia também: O Escola sem Partido e a luta pela verdade (artigo de Miguel Nagib, publicado em 9 de dezembro de 2018)

Afinal, quando se decidiu que escolas e universidades devem focar em questões políticas, que se passou a exigir dos alunos que se posicionem politicamente, que proponham soluções políticas, é isto que acontece: o conflito de valores. Talvez este conflito esteja por trás da queda do prestígio do professor no Brasil, conforme foi revelado em pesquisa recente. Se desejamos que os alunos entendam sobre política, não podemos nos surpreender quando a política entrar nas escolas e os professores deixarem de ser avaliados por suas qualidades pedagógicas e passarem a ser considerados por seu engajamento político.

Adriano Gianturco é coordenador do curso de Relações Internacionais no IBMEC BH. Lucas Azambuja é sociólogo e professor no IBMEC BH.
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