• Carregando...

Finalmente a ficha está caindo para o presidente Lula e seu ministro da Fazenda: a crise financeira mundial atingiu sim o Brasil, vai ter impactos profundos e duradouros e não permite eufemismos nem brincadeiras. Certamente não é um tsunami, como o que varreu a economia americana, mas muito menos é uma marolinha como quis nosso presidente. Já é alguma coisa, além daquilo que o competente dr. Meirelles vem fazendo. Agora, é administrar a execução das medidas anunciadas, como a ampliação dos recursos disponíveis para que o sistema bancário aumente a oferta de crédito à produção e procurar um equilíbrio difícil entre um valor para a moeda estrangeira que estimule as exportações e não agrave a inflação.

Ao mesmo tempo, está na hora de sepultar algumas idéias infelizes como comprar ações de bancos e de construtoras, o que não tem o menor sentido. Os bancos já estão recebendo uma injeção de recursos de mais de R$ 30 bilhões para irrigar o sistema produtivo e agora cabe ao Banco Central vigiá-los de perto para que o façam urgentemente, em vez de reforçar seus caixas e aproveitar a escassez de crédito para aumentar as taxas. Não é necessário inventar novas gambiarras financeiras para acudir um setor altamente lucrativo, nem virar sócio de construtoras. Como também não tem sentido apoiar (leia-se financiar, subsidiar) multinacionais do setor automotivo para amenizar a "crise" que já se instalou no setor. Que crise, cara-pálida? Nos últimos doze meses, foram produzidos 20% e licenciados 27,4% mais veículos do que nos doze meses anteriores. Em que país do mundo, uma indústria que vendeu 27,4% a mais do que no ano anterior pode falar de crise? Ou o nosso capitalismo continua sempre privatizando os lucros e socializando os prejuízos?

Como a crise mundial parece, finalmente, começar a ser controlada, já se pode vislumbrar o que virá logo que esse quadro agudo de desconfiança e de pânico tiver sido vencido. Não há dúvida, por exemplo, de que o sistema financeiro mundial experimentará uma profunda alteração, depois que a crença generalizada de que os mercados financeiros são capazes de se automedicar e se auto-regenerar se provou ingênua e altamente perigosa. Até o antes todo-poderoso Allan Greenspan fez seu mea-culpa pela irresponsabilidade com que as autoridades monetárias do mundo deixaram os banqueiros e financistas brincar de alquimistas e multiplicar os riscos de depositantes e investidores. Durante muito tempo, parecia que os aprendizes de feiticeiro de Wall Street tinham descoberto a pedra filosofal, para transformar lixo em ouro e produzir o elixir da longa vida, capaz de perpetuar essa ilusão...

Ficou claro também que a globalização, ao lado das oportunidades que cria, gera também riscos colossais, ainda não compreendidos, muito menos controlados. De repente, um pequeno produtor do interior brasileiro descobrirá que está muito mais conectado com o mundo lá fora do que imaginava; ou um funcionário de uma empresa exportadora no interior do Mato Grosso descobrirá que seu emprego corre risco por causa das estripulias financeiras de um "sábio" de Wall Street.

De uma forma ou de outra, aquele mundo bem comportado que surgiu do Acordo de Bretton Woods, após a Segunda Guerra Mundial, ruiu. Como sou um otimista incorrigível, estou vendo um aspecto positivo: pelo menos ficaremos livres daquela pretensa e pomposa sabedoria da burocracia internacional do FMI e das agências internacionais para tratar crises financeiras e monetárias que freqüentemente mais debilitava do que ajudava os doentes. Nem agüentar aqueles funcionários de quinto escalão do Fundo dando palpites na economia interna dos países em desenvolvimento. Eles – agora está provado – não sabem nem para consumo próprio, quanto mais para dar lições a quem quer que seja.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]