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Ao assumir oficiosamente o pódio de presidente reeleito para o segundo mandato, o candidato Lula deu a campanha por encerrada, dispensou o resultado das urnas de domingo e começou a adotar as primeiras medidas, no pleno exercício de vencedor, seja nas comemorações ruidosas do sucesso ou em gestos de reconciliação com o bom senso.

Do lado bom do deslumbramento – que é o que necessitamos enxergar para o reencontro com a esperança –, destaque para a declaração de Lula anunciando o armistício com a oposição e a suspensão das hostilidades com o seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o seu efetivo adversário nos comícios, entrevistas e debates.

Pela novidade da mensagem conciliatória, convém reler, na forma original, o recado de Lula na entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre: "Eu não quero mais ficar comparando com o Fernando Henrique Cardoso, porque nos nossos quatro anos já batemos muito neles. Ou seja: agora eu quero comparar comigo mesmo".

Com a ressalva ao dispensável desdém que macula o aceno de pacificação, Lula curva-se à evidência do novo desafio que se apresenta para os quatro anos da reeleição. A carga de responsável pelos erros e fracassos alivia as costas do antecessor e passa para o agraciado com a consagradora reeleição, por mais de 20 milhões de votos de diferença.

Já e já, como prioridade absoluta que relega para segundo plano os contactos com a oposição para o acerto do esquema de governabilidade, o reeleito invade a área de risco das articulações para a remontagem do governo. As elementares características da reeleição facilitam a reforma da equipe ministerial e de seus apêndices cobiçados, como a presidência da Petrobrás, que vale por três ministérios na bolsa das apostas.

Mas, entre os muitos complicadores a considerar nas obras para o reajuste do time, não deve ser desprezada a inabilidade presidencial na escolha de auxiliares. Basta correr os olhos na lista dos despachados por envolvimento da série de escândalos de corrupção, que rondaram o gabinete do presidente sem que ele de nada soubesse, fosse informado ou sequer suspeitasse no alheamento da angelical boa-fé e no pouco interesse pela rotina tediosa da administração.

Se errou feio na escolha de companheiros do PT e não conseguiu conter a invasão em massa aos milhares de postos de sedutora remuneração, sem concurso ou qualquer exigência, as coisas se complicam quando tiver que conciliar as reivindicações dos aliados com a redução da cota dos que se aboletaram na nata açucarada e se organizam para resistir às ordens de despejo.

Entre os ex-desafetos e recentes aliados, a fatia do PMDB que apostou na dezena sorteada, não deixa a mais remota dúvida quanto às suas pretensões e as cobranças dos compromissos assumidos. E na mistura do joio e do trigo, uma turma da pesada não fará abatimento no acerto de conta.

O monstrengo ministerial não agüenta novas divisões de tabiques para a acomodação dos hóspedes que socam a porta. Cortar enxúndias para acelerar a emperrada máquina administrativa está fora de cogitação. Nem será surpresa se mais dois ou três ministérios ou secretarias forem criados para instalar os novos inquilinos.

A badalação da vitória, com milionária votação recordista, abafará os ruídos dos esbarrões e cutucadas na briga na zona de risco. E a oposição, abatida pela derrota, desempenhará o seu papel sem entusiasmo e com graves atritos internos.

Mas, trégua e festa são passageiras. A nuvem política muda a cada vez que se olha o céu.

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