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A dúvida que angustia o presidente Lula nos últimos dias e que alcançou os extremos da paranóia nas rodadas de conversas, especulações, palpites, conselhos, cálculos, análises dos índices das pesquisas envolvendo o núcleo duro do governo – que não tem nada para fazer – e os cupinchas que sobraram da desfalcada equipe, sobre os riscos da surpresa marota das urnas do primeiro turno e da exata avaliação do inferno que espera o candidato na calamitosa alternativa de um segundo turno.

Pesquisas cometem os pecados de equívocos, mas, no caso, é de uma evidência inquestionável que o favoritismo consolidado de Lula em todas as sondagens aponta para a probabilidade da liquidação da fatura nas urnas de domingo. A cautela do conselho que a compara com o caldo de galinha, recomenda que se considere a hipótese de uma surpresa com a simples migração de três ou quatro por cento dos porcentuais de vantagem para o candidato oposicionista, o ex-governador Geraldo Alckmin, em lenta ascensão, para que a cambalhota imponha a decisão para um segundo turno, com um mês de campanha como amargo aperitivo.

Ocorre que o mais frio e experiente analista não saltará a cerca de arame farpado do saque na tentativa de sondar o mistério do voto e as suas conseqüências. Pois é o segundo turno que apavora o PT no purgatório em que expiam os muitos pecados mortais de reincidentes envolvimentos em lambanças escabrosas.

A vitória é o melhor dos remédios, de eficácia milagrosa para todas as moléstias, inclusive as eleitorais. Reeleito no primeiro turno, por maioria absoluta de votos, Lula recupera o prestígio, a autoridade, a liderança contaminada pelo desempenho contraditório e escapista das desculpas do nada viu, nada sabe, a culpa é dos outros que o traíram. E assumir, sem grande esforço, aproveitando o desânimo e os atritos da oposição em crise, no calor do sucesso, a iniciativa de articular ampla base de apoio parlamentar.

Na remontagem do ministério atravessará a água suja dos acertos eleitorais com figurinhas marcadas por estripulias em muitas jornadas: Newton Cardoso, que exige seis ministérios para o seu PMDB que, como proclama, "vai coabitar o governo"; Orestes Quércia; Jader Barbalho que teve as suas mãos beijocadas em público, em comício do candidato; além da turma de companheiros do PT que os votos credenciem a reclamar o seu naco na partilha do poder.

Para mal dos pecados, o novíssimo escândalo do dia fechou a três dias do voto: a Polícia Federal confirma que Hamílton Lacerda, o então honrado coordenador da campanha do senador petista Aloízio Mercadante ao governo de São Paulo, foi o autor da entrega da mala de dinheiro, recheada com R$ 1,168 milhão e US$ 248,8 mil ao ilustre advogado Gedimar Pereira Passos e ao digno empresário Valdebran Padilha da Silva, no hotel Íbis, em São Paulo, dia 14 deste mês. A razoável dinheirama, de origem ainda não confirmada, tinha endereço certo e destino sabido: a compra do famoso "dossiê" das mãos limpas do empresário Luiz Antônio Vedoin, um dos chefes da máfia dos sanguessugas. A montagem da tramóia visava detonar a candidatura tucana de José Serra a governador de São Paulo, respingando lama no candidato Geraldo Alckmin.

A carga pesada que força o candidato-presidente aos malabarismos verbais das afirmações absurdas, ao descontrole das contradições antecipa as agruras do futuro no balanço das alternativas. Em qualquer caso, o PT é hoje uma bola de chumbo soldada às canelas presidenciais. Nunca na história deste país um partido acumulou tantos vexames e foi tão fundo no abismo da desmoralização.

A riquíssima coleção de reincidências na rota da corrupção está empurrando a legenda para a vizinhança do sistema penitenciário. Entre os poucos presos, os indiciados, os listados com pedidos de prisão preventiva e os que ornamentam os quadros de parlamentares envolvidos nas roubalheiras do mensalão, do caixa 2, das ambulâncias, do dossiê, nas denúncias apuradas pelas CPIs, pelos Conselho de Ética da Câmara e do Senado, a imensa maioria é de filiados à sigla da desbotada estrela vermelha, que anda sumida da campanha de Lula.

Do jeito que o carro sacoleja na estrada esburacada, a turma petista caída nas malhas da lei acaba formando uma facção a mais na superpopulação penitenciária.

Apenas a prudência para preservar a união do grupo e a sua fidelidade ao partido. Faz sentido.

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