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| Foto: Robson Vilalba/Thapcom

Três de setembro de 2018: em meio às chamas, o Brasil assistiu a parte da sua história e ciência desaparecerem. De reflexões sobre as cinzas pode nascer uma luz para o futuro.

O grave ocorrido no Museu Nacional repercutiu muito, embora tenha sido praticamente ofuscado pelos acontecimentos da corrida eleitoral. Viram-se trocas de acusações entre os lados antagônicos do espectro político e divagações sobre eventuais culpados pela catástrofe. Um dos poucos consensos foi: falta dinheiro para a cultura no país e, em específico, falta dinheiro para a manutenção dos museus que guardam parte da história e da ciência nacionais. Pior: isso parece ser generalizado, o que põe em xeque o futuro de outras instituições que prestam serviços similares.

Progressistas bradaram contra o teto de gastos. Conservadores e liberais falaram sobre a importância de valorizar a cultura a priori, sobre a cultura como produto, e sobre a gestão dos museus engessada e ideologicamente enviesada. Os dois lados apontaram para o orçamento risível do Museu Nacional: menos de R$ 600 mil ao ano para cuidar de 20 milhões de peças. Três centavos de real para manter cada peça por ano.

Grandes museus dependem pouco de verba estatal

Mas de onde vem a escassez de recursos? Do descaso governamental? Da falta de interesse por cultura, história e ciência dos brasileiros? Por que o desinteresse em manter o patrimônio dos museus? A resposta nos parece mais simples do que se imagina.

Acusar o brasileiro de falta da cultura é terceirizar a culpa. Também é fácil apontar para Brasília e se eximir, já que “eles cortaram o orçamento”. Enquanto isso, a gigantesca dependência de dinheiro público é, muito provavelmente, a resposta final.

Indubitavelmente há falta de recursos; mas ela é um sintoma, e vemos três causas: é muito difícil mensurar o retorno de investimentos em cultura e ciência para assim direcionar-lhe recursos; os museus normalmente são geridos por entes públicos (autarquias ou universidades) sob muita influência político-partidária, geralmente ideologicamente avessa à participação privada e favorável à centralização das responsabilidades no Estado; e há, devido ao ponto anterior, uma dificuldade enorme de aceitar recursos comerciais e doações por medo de “corromper a arte e a ciência”. A burocracia aumenta a dificuldade: é dificílimo doar para entes públicos. Se é difícil doar para um filho, imagine doar a um museu. Sem acesso ao dinheiro privado, esses equipamentos públicos ficam à mercê da sorte e da ideologia em voga.

Interesse mercadológico é fatal: A principal função do museu não é gerar lucro (artigo de Marcos Araujo, professor do curso de História da Universidade Positivo)

Exemplos de como aumentar a quantidade de recursos existem aos montes. Grandes museus dependem pouco de verba estatal. Bilheteria, programas de membros (como o do Masp, em São Paulo), celebrações e jantares para angariar fundos, lojas de lembranças, exploração da imagem e diversas outras soluções são responsáveis por até 80% das receitas de alguns dos mais relevantes museus do mundo.

A solução para os museus no Brasil é usar uma lógica mais mercadológica e menos ideológica. Sua transformação em organizações da sociedade civil, privadas e até sem fins lucrativos é possível e desejável. Tais organizações podem receber subvenção estatal pela prestação de serviços de interesse público, mas não estão dependentes do orçamento ou da ideologia de seus diretores. Abrir os museus à realidade de mercado aumentaria sobremaneira a probabilidade de conservação da cultura, da história e da ciência nacionais para as próximas gerações.

Adriano Paranaiba é economista, professor do Instituto Federal de Goiás e editor do Mises Journal. Fernando Monteiro D’Andrea é engenheiro de produção e especialista do Instituto Mises Brasil.
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