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A eleição para presidente da Câmara dos Deputados, vencida pelo petista Arlindo Chinaglia, revelou vitalidade, pluralidade e heterogeneidade no Poder Legislativo. O voto é secreto. A base do governo se dividiu, o que não é boa notícia para o governo no início do segundo mandato e a oposição mais uma vez não teve força política. Velhos esquemas de distribuição de cargos, favores e vantagens foram apontados. O debate público, como poucas vezes visto antes da eleição para este cargo, mobilizou e agitou o Congresso. O presidente da Câmara ocupa a terceira posição na linha sucessória da Presidência da República. A pauta e a agenda política das votações na Câmara dependem em boa parte das articulações da Mesa Diretora.

Vários elementos administrativos e políticos no funcionamento da Câmara lá são decididos. As comissões permanentes discutem os projetos de lei antes da ida para o plenário e estas têm papel central na supervisão e fiscalização do governo e orçamento. O Poder Legislativo foi acusado de ter proporcionado uma das piores legislaturas na República com os escândalos dos mensaleiros, sanguessugas e a estratosférica tentativa de aumento salarial dos deputados.

Agora se procura iniciar um novo ciclo com uma das mais empolgantes e eletrizantes eleições naquela casa legislativa. Os três nomes em disputa representaram parlamentares conceituados e bem avaliados como "Cabeças do Congresso", ao contrário da traumática experiência passada com Severino Cavalcanti, o representante dos interesses mais corporativistas do "baixo clero". Um governo em início de mandato, com a caneta do poder cheia, dificilmente perderia a eleição. Tanto Gustavo Fruet como Chinaglia são homens de partidos grandes e Aldo Rebelo utilizou o seu grande prestígio pessoal. Como seria de se esperar em uma democracia a oposição marcou presença com a candidatura de Fruet. Adversários lembraram a renúncia de Fruet na Comissão de Ética da Câmara, em janeiro de 2006, quando ele se retirou para não ter de votar pela cassação do deputado Roberto Brant (PFL), aliado do seu partido. A base governista mais uma vez mostrou as duas divisões com a tentativa de reeleição de Aldo, cuja eleição em 2005 sinalizou o recontrole da presidência por parte da situação e o início do fim da crise política começada justamente com a surpreendente vitória de Severino. A eleição movimenta o circuito político com ofertas políticas e conchavos tão característicos da política real em Brasília.

Caberá agora ao vencedor, Chinaglia, tentar recompor a dividida base governista, ainda mais fragmentada após o processo eleitoral. A eleição à presidência do Senado transcorreu sem maiores surpresas e Renan Calheiros foi reconduzido ao posto, justamente na casa em que a base governista é mais tênue e problemática. Agora a sociedade cobra do Poder Legislativo como um todo uma agenda transparente, ética e séria de trabalhos.

Ricardo Costa de Oliveira é cientista político e professor da UFPR.

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