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É necessário realmente um choque de gestão. Não um rearranjo de secretarias e de cadeiras e sim um replanejamento completo do papel do Estado

Os resultados do Censo de 2010 que o IBGE vem divulgando confirmam algo que diversos estudos já haviam apontado: o Paraná deixou de ser o magneto que atraiu milhares de paulistas para desbravar a mata virgem e transformar nosso estado no maior produtor mundial de café no início da década de 50 do século passado. Deixou também de ser o destino de milhares de catarinenses e gaúchos que vieram para o Sudoeste e depois o Oeste paranaense para encontrar melhores oportunidades de vida e, assim, construíram a grande economia agroindustrial da soja, do trigo, da avicultura e da suinocultura. Na última década – revela o Censo – paranaenses é que emigraram para outras paragens, buscando melhores condições de vida no interior de São Paulo e de Santa Catarina.

O Paraná, terra de todas as gentes, cadinho de diferentes etnias que para cá acorreram vindas da Europa e da Ásia, também perdeu essa condição aglutinadora: quase 50 mil paranaenses emigraram para outros países, representando algo como 10% dos brazucas que também não viram oportunidades por aqui e que, assim, se bandearam para os lugares em que, no passado, seus avós e bisavós deixaram suas raízes para vir para o Brasil e para as terras paranaenses em busca de uma vida melhor.

A antiga Terra da Promissão já não é capaz de prometer muita coisa ou de cumprir o que prometeu e estamos cada vez mais distanciados dos nossos antigos sonhos de construção de um estado equilibrado e justo, um celeiro de oportunidades para paranaenses natos e de adoção.

Essa reversão de nosso processo histórico de colonização e ocupação do território chama atenção para o caráter perverso que tomou a economia paranaense nos últimos 30, 40 anos. Mais de 220 municípios têm perdido, sistematicamente, população, renda, empregos, dinamismo econômico e social. Centenas de núcleos habitacionais, antes fervilhantes de gente e pulsantes com o dinamismo da agricultura, do comércio e da industrialização primária, são hoje cidades mortas ou quase mortas, exangues, sofrendo de anemia profunda, dependendo de esmolas governamentais para continuar a existir. Os dados do crescimento global do estado mascaram esse fenômeno deprimente: na realidade, o crescimento da economia de alguns setores e regiões disfarça a realidade de que vastas áreas do território paranaense vivem à míngua, sem capacidade de retomar o dinamismo de outras épocas.

Em outras palavras, com exceção de alguns poucos centros, nosso interior experimenta um processo de quase estagnação. Enquanto isso, a região metropolitana de Curitiba transborda com 400 mil habitantes a mais do que há dez anos. Hoje, Curitiba e cercanias já congregam 3,4 milhões de habitantes, que serão 4 milhões dentro de oito anos e a antiga Cidade Modelo, a Cidade Sorriso, a Capital Universitária do país começa a também entrar em colapso. Começamos a pagar o preço dessa concentração em setores antes modelares: Curitiba, que passou décadas se vangloriando de ter o melhor sistema de transporte urbano e de mobilidade do país, foi desbancada: o Rio de Janeiro, com sua topografia madrasta, espremido entre o mar e a montanha, é hoje referência em inovações de transportes. Outro sistema modelar, o de saúde de massa, demonstra exaustão, quando as pessoas têm de esperar até quatro horas para uma consulta médica em um posto de saúde. A população começa a se exasperar e a esquecer dos avanços enormes obtidos em outras áreas do cuidado pré-natal, das coberturas vacinais etc.

É necessário realmente um choque de gestão. Não um rearranjo de secretarias e de cadeiras e sim um replanejamento completo do papel do Estado, uma nova lei de organização da administração que substitua definitivamente a lei atual que já se aproxima de 40 anos de vida. Necessitamos repensar o sistema de distribuição regional de investimentos, criar novas modalidades inovadoras de partilhamento de tributos entre municípios, reordenar a rede de cidades, inviabilizada no passado pelas artes dos bruxos da política mais preocupados em criar sinecuras e oportunidades para seus apaniguados políticos do que no bem-estar da população.

É preciso reinventar o Paraná que queremos.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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