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É impossível permanecer indiferente diante da história de María Oropeza, ativista venezuelana e líder da associação Ladies of Liberty Alliance (LOLA), que, neste 6 de agosto de 2025, completou um ano de prisão no maior centro de tortura da América Latina, o El Helicoide, em Caracas.
Sequestrada sem ordem judicial pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), María representa hoje, com sua coragem e sofrimento, a face da resistência contra os abusos de um regime que insiste em esmagar toda voz dissonante em defesa da liberdade.
A prisão de María Oropeza não é um episódio isolado, mas parte de uma sistemática engrenagem autoritária que transforma opositores em inimigos a serem silenciados. Sua detenção ocorreu enquanto trabalhava na campanha presidencial de María Corina Machado, ativista de direita e principal liderança opositora do governo venezuelano, também sistematicamente perseguida pelo regime de Nicolás Maduro.
Nesse processo, foram negados a María Oropeza direitos básicos, e acusações falsas foram fabricadas para mantê-la sequestrada sob tortura física e psicológica, numa aliança infernal entre medo, violência e impunidade.
Durante meses, a família de María ficou sem notícias, agarrando-se apenas à esperança enquanto buscavam respostas.
Após uma espera de mais de 60 dias até a confirmação de que ela estava no El Helicoide, seus familiares depararam-se com uma realidade aterradora: um lugar conhecido por relatos de maus-tratos e violações diárias de direitos fundamentais. Mesmo agora, com visitas quinzenais permitidas, a arbitrariedade continua sendo a norma.
Em agosto de 2024, após iniciativa do LOLA Brasil de realizar uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a qual acatou e concedeu medidas cautelares para proteger María, reconhecendo o grave risco à sua integridade. Mas a resposta do regime foi o desprezo pela decisão e novas investidas de intimidação e manipulação. Não há como relativizar o horror dessa situação.
A ditadura de Maduro operacionaliza seus instrumentos de repressão por meio de prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e tortura, práticas que ferem profundamente a dignidade humana
A anuência a tais condições é a derrota dos valores mais básicos e fundamentais da civilização livre.
É fundamental que vozes independentes — como organizações defensoras de direitos humanos — não deixem essa luta cair no esquecimento. O trabalho de articulação feito pelo LOLA, suas denúncias, manifestações públicas e pressão junto a autoridades nacionais e internacionais são atos de resistência, esperança e busca pela justiça.
Ao completar um ano de prisão, a luta de María Oropeza se transforma num símbolo da perseverança perante a escuridão e a tirania. Sua história nos toca porque revela, em detalhes dolorosos, como regimes autoritários tentam destruir não apenas o corpo, mas também o espírito de quem ousa sonhar com liberdade. E, ao mesmo tempo, inspira ao lembrar que cada gesto de solidariedade, denúncia e mobilização é um fio de luz que pode atravessar as grades, as ameaças e a censura.
O silêncio diante de histórias como a de María não é opção: cala-se diante dela quem aceita que a tirania vença. Que a tragédia vivida por essa jovem ativista venezuelana nos convoque, a todos, à resistência e ao compromisso inabalável com a liberdade — onde quer que ela esteja ameaçada.
A prisão de María não pode ser apenas mais uma estatística num relatório; ela é um chamado urgente à humanidade, à empatia e à ação. Sua voz deve ecoar entre aqueles que defendem a liberdade em nosso continente.
Os brasileiros, vivendo em um país vizinho à Venezuela e sob um governo que protege Maduro, precisam se preocupar – com urgência – em não serem os próximos silenciados por uma tirania que, infelizmente, está cada vez mais próxima. Que sigamos lutando para que nenhuma voz pela liberdade seja calada, nem que tenhamos de enfrentar as trevas mais densas.
Lorena Mendes é vice-presidente da associação Ladies of Liberty Alliance Brasil.



