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María Oropeza: presa por defender a democracia

María Oropeza segue presa — sem julgamento, sem defesa, sem qualquer sinal de liberdade. (Foto: Foto: Reprodução/X/@mariaoropeza94)

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A pior face do autoritarismo se revela na história de María Oropeza. Jovem advogada venezuelana, Oropeza decidiu dedicar sua vida à luta por um país livre e democrático. Ela integra o LOLA (Ladies of Liberty Alliance), uma rede global de mulheres que defendem a liberdade. Por levantar sua voz contra a ditadura de Nicolás Maduro, ela foi brutalmente silenciada. No dia 6 de abril, completaram-se oito meses desde que ela foi presa pela ditadura. A história de Oropeza nos lembra que, em tempos sombrios, resistir não é apenas um ato de coragem, é uma necessidade.

Convocada por María Corina Machado, a principal líder da oposição de Nicolás Maduro, María Oropeza aceitou o desafio de coordenar a campanha no estado de Portuguesa. Atuou com coragem, liderança e uma impressionante capacidade de mobilização. Mas, como toda ditadura teme vozes livres, o regime respondeu com repressão. Além da censura e da prisão de opositores, o desequilíbrio foi imposto também no processo eleitoral. Primeiro, María Corina foi arbitrariamente impedida de concorrer. Em seguida, sua sucessora, Corina Yoris, também foi tornada inelegível. Ainda assim, a oposição resistiu, unida em torno do nome de Edmundo González.

María Oropeza é o rosto da coragem em tempos de covardia, a voz que não se calou mesmo diante da brutalidade. Que em breve ela esteja livre — não apenas por justiça, mas para que sua história continue inspirando todos aqueles que acreditam na liberdade como valor supremo

No dia 17 de julho de 2024, chegaram as eleições mais esperadas. Pela primeira vez, a oposição estava organizada: mesários preparados em todo o país garantiram o salvamento das atas eleitorais diretamente nas seções de votação. E com mais de 80% das urnas apuradas e atas disponíveis até hoje na internet, a vitória esmagadora de Edmundo González estava comprovada. Ainda assim, Maduro anunciou mais um golpe: declarou-se vencedor com 51% dos votos. Foi a primeira vez que uma fraude eleitoral se tornou tão descaradamente evidente.

Naquele momento, os presos políticos se multiplicavam, e tudo indicava que a oposição deveria aceitar a derrota e se calar diante da ditadura. Mas María Corina Machado disse com clareza: "só concebo minha vida na democracia e na Venezuela". Recuar não era uma opção. E a oposição decidiu resistir, apesar de tudo.

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Entre as vozes mais firmes estava a de María Oropeza. Ela denunciou as atrocidades do regime nas redes sociais, na imprensa e nas ruas. Até que, no dia 6 de agosto, o pior aconteceu. Ela foi sequestrada dentro de casa, e transmitiu ao vivo seu próprio sequestro. As forças de Maduro a levaram simplesmente por ser uma voz ativa pela liberdade. No dia seguinte, divulgaram um vídeo que mostrava María Oropeza em um helicóptero, sendo conduzida a uma prisão. Sem nenhuma informação oficial, passaram-se semanas até que soubéssemos: ela estava detida no El Helicoide, o maior centro de tortura da América Latina.

Mas María Oropeza nunca esteve sozinha. Como parte da rede Ladies of Liberty Alliance (LOLA), sua luta foi imediatamente compartilhada por centenas de mulheres ao redor do mundo. Cada uma se viu em María e sentiu, com sua prisão, uma violência pessoal. E tudo foi feito em busca de sua liberdade: protestos, articulações com políticos, manifestações na imprensa e, inclusive, uma petição à Corte Interamericana de Direitos Humanos, que acatou o pedido e solicitou esclarecimentos ao governo de Maduro.

Ainda assim, nada mudou. Estamos diante de um regime que não responde a instituições, nem respeita a lei ou os direitos humanos. Passaram-se oito meses sem respostas. María Oropeza segue presa — sem julgamento, sem defesa, sem qualquer sinal de liberdade. Ela é uma entre tantos presos políticos na Venezuela, mas também é um símbolo. Um lembrete de que a luta pela liberdade não é fácil, nem rápida.

María Oropeza é o rosto da coragem em tempos de covardia, a voz que não se calou mesmo diante da brutalidade. Que em breve ela esteja livre — não apenas por justiça, mas para que sua história continue inspirando todos aqueles que acreditam na liberdade como valor supremo. Que ela nos encontre em pé, e nunca em silêncio.

 Anne Dias é advogada e líder do LOLA (Ladies of Liberty Alliance).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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