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Falam-se muitas mentiras sobre a geração Y (ou milênio). Hoje vou me dedicar a duas dessas mentiras, especificamente. Quanto à chamada geração Z e sua “crise” de identidade sexual, esperemos para ver o que os “alunes” do ensino médio das escolas da zona oeste de São Paulo (berço dos “menines” da geração Z) farão quando acabar a mesada.

Y seriam jovens entre 18 e 35 anos, mais ou menos. Z seriam os mais jovens do que os Y. Essas definições, advindas do marketing e tomadas como “verdades científicas”, são imprecisas justamente para servir ao mercado.

No mundo contemporâneo, modas de pensamento tomam o lugar do pensamento. Tal fenômeno, fruto do marketing de comportamento (tendência a tomar projeções idealizadas de comportamento como comportamento real e posterior venda dessas projeções idealizadas), causa efeitos nefastos. No entendimento da chamada geração Y, esses efeitos são vistos a olhos nus.

O mercado de “pensamento” para o mundo corporativo é um dos terrenos mais propícios para esse tipo de bobagem. As empresas jogam rios de dinheiro em autoajuda, “ética empresarial” e capitalismo consciente, tudo porque o marketing de comportamento diz que há uma tendência para o “capitalismo do bem”. O capitalismo do bem é, antes de tudo, um mercado promissor para palestras e o marketing de causas –um dos ramos do marketing de comportamento.

O modo como esse marketing de comportamento trata dos jovens é assustador. Inclusive porque essa “tendência” invade as casas. E os pais são os primeiros a entrar no blá-blá-blá.

Desde que ter filhos virou uma “opção”, os pais ficaram inseguros e consumem todo tipo de lixo sobre a educação dos filhos. O mercado de ideias bobas cresce no mundo na mesma velocidade com a qual nasce um idiota a cada segundo.

Como é um jovem Y segundo o marketing de comportamento? Nativo digital (isso quer dizer que ganhou um iPad no berço), decidido a encontrar sentido no trabalho que faz (por isso recusa empregos que não sejam legais para ele), impaciente com gente mal resolvida e ultrapassada (que não ganhou um iPad no berço), mais evoluído em termos afetivos do que seus pais (as meninas, então, são um show de emancipação e empoderamento...), intolerante com posições sexistas, racistas e reacionárias em geral, mais coletivo e menos individualista, preocupado com mobilidade urbana, e por aí vai.

Se olharmos de perto, veremos que o fenômeno Y não passa de uma geração de jovens que nasceu num mundo mais rico, seja porque os pais pagam, seja porque o Estado de bem-estar social europeu paga, seja porque o mercado americano é riquíssimo e gera trabalho “ad infinitum” para todos (esses porcos capitalistas americanos são uns malvados mesmo...).

Todas as características elencadas acima para os Y dependem de grana. Quem é pobre aceita tudo e não recusa nada. A radicalidade das posições ideológicas dos Y vai muito bem de business class e bolsa Prada. Isso nada tem a ver com dizer que não seja de fato essencial buscar sentido no trabalho ou ter concepções de mundo, quer dizer apenas que, para isso, se precisa de alguma grana.

Mas quais são as mentiras sobre os Y que o marketing de comportamento propaga? A primeira mentira é sua pretensa evolução afetiva.

Quando o jovem Y para de repetir essa mentira sobre si mesmo (a mentira alimenta sua vaidade, claro), o Y revela seu medo diante do mundo contemporâneo e da vida complicada que é obrigado e enfrentar. Muita competição, muita cobrança. Sentem-se “oprimidos” pela demanda de afetos corretos. Pensam que no mundo de seus pais era mais fácil construir uma vida profissional e que as pessoas eram mais confiáveis. E aí chegamos à segunda mentira de hoje sobre os jovens Y.

A segunda mentira está ligada a esse tema da confiança. Apesar de todo o discurso sobre o coletivo, nunca houve uma geração mais solitária, individualista e narcisista como esta. A confiança é um “artigo” em extinção.

Não há frase mais idiota do que “os jovens de hoje são mais evoluídos”. Não passa de chantagem emocional com esses coitados.

Luiz Felipe Pondé,escritor, filósofo e ensaísta, é doutor em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da Faap.
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