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A importância de uma metrópole vai além do conceito jurídico que reúne municípios vizinhos de uma cidade com significativa população. Além de polo econômico e comercial, uma metrópole agrega outras funções de ordem socioeconômica e político-cultural.

As transformações de uma cidade em metrópole, como as que estão acontecendo em Curitiba, trazem vantagens e desvantagens. O aumento de oportunidades para seus moradores, com maior quantidade e qualidade de equipamentos de lazer, comércio e prestação de serviços, traz também problemas de deslocamento e congestionamento, além do aumento da violência e da insegurança.

Outro fenômeno que acompanha o processo de metropolização em cidades de países emergentes como o Brasil é o surgimento de megaconstruções, como shopping centers e supermercados. Há mais de um século, cidades como Paris e Londres, na Europa; e Nova York e Chicago, nos Estados Unidos, têm grandes lojas de departamentos em suas áreas centrais que convivem com o comércio tradicional em lojas de variadas dimensões, atraindo moradores e turistas. Eficientes sistemas de transporte coletivo permitem que a população usufrua de seus serviços sem a necessidade do uso de automóvel.

O modelo dos atuais shopping centers aparece em cidades norte-americanas de porte médio, onde a população vive em casas isoladas nos subúrbios, longe dos centros tradicionais. Em função da distância e do fluxo, as vias de deslocamento se transformam em autopistas com pouca relação com os edifícios, diferentes das avenidas urbanas. Os espaços públicos das cidades tradicionais, com suas ruas e praças para pedestres, ficam reduzidos neste modelo.

Nas cidades brasileiras, temos uma mistura do modelo europeu e do norte-americano, cujo desenho urbano ainda esta sendo construído. Para o arquiteto holandês Rem Koolhaas, três elementos mudaram a paisagem das cidades: o automóvel, o ar-condicionado e os equipamentos de circulação vertical (elevadores e escadas rolantes). Essas condicionantes aumentaram a escala das edificações nas cidades.

O gigantismo dessas construções faz com que seus usuários fiquem distantes da iluminação e ventilação natural, o que causa um certo mal-estar. Depois de ficarmos algum tempo em seu interior com climatização artificial, perdemos a noção do tempo: não sabemos se é dia ou noite, ou o clima e a temperatura no espaço exterior. Em termos de arquitetura o aspecto externo destas obras não revela seu interior, o que causa estranheza na relação desses edifícios com a cidade.

O primeiro grande shopping de Curitiba, localizado próximo ao Passeio Público, interage com a população de seu entorno, além de ser acessado por transporte coletivo e individual. Nas últimas décadas os novos centros de comércio aumentaram muito sua escala, exigindo complexos relatórios de impacto ambiental. Na mesma proporção, aumentou também a necessidade de grandes espaços para estacionamento de veículos e mudanças nas vias de acesso dessas construções.

Edifícios de grande altura apresentam programas multifuncionais. Em um mesmo complexo convivem habitação permanente e transitória, escritórios de prestação de serviços, além de lojas para comércio. O importante não é o tamanho dessas edificações, mas suas relações com a cidade.

Nessas megaconstruções criam-se grandes espaços de uso semipúblico, tendo as ruas e praças das cidades tradicionais como modelo. Seria hipocrisia dizer que esses grandes equipamentos urbanos não atendem a população, pois estão sempre lotados, oferecendo espaços de lazer e entretenimento, além de sua atividade principal, que é o comércio.

Salvador Gnoato é arquiteto e professor da PUCPR.

Este texto faz parte de rodadas quinzenais em conjunto com os arquitetos Clovis Ultramari, Fabio Duarte e Irã Dudeque. Tema desta rodada: grandes obras e a cidade.

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