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Desde o começo do segundo semestre de 2008, os indicadores econômicos internacionais passaram a acusar, com diferentes graus de intensidade, a complexidade e a profundidade do colapso das finanças globais, ocasionado pela conjugação entre o prolongado relaxamento monetário e na regulamentação das práticas bancárias, e deflagrado a partir do 1º trimestre de 2007, com a derrocada das aplicações financeiras ancoradas, em grande medida, em papéis estruturados e referenciados em créditos hipotecários de elevado risco, conhecidos como subprime.

Rigorosamente, a partir do governo Clinton assistiu-se a uma espécie de relaxamento das regras de concessão de crédito e hipotecas a tomadores com histórico de inadimplência e de retomada de imóveis, por parte dos agentes financeiros, e/ou com elevado comprometimento da renda familiar com encargos de endividamentos.

Em continuidade, houve a estruturação e multiplicação de produtos, e consequentemente dos lucros, financeiros atrelados à supervalorização imobiliária, incluindo a imposição de multas expressivas, por ocasião da repactuação de contratos em bases mais favoráveis, o que permitia a participação do agente financiador no incremento das rendas de capital do mutuário.

As raízes da ruína daqueles instrumentos financeiros repousam no rebaixamento, pelas agências internacionais de risco, dos conceitos de diversos fundos hospedeiros de papéis do segmento hipotecário de enorme vulnerabilidade dos EUA, cuja condição de inadimplência foi rapidamente se espraiando pelo restante do mercado imobiliário, até abalar a solvência das instituições financeiras e alcançar a economia real.

Os sinais mais evidentes da crise foram transmitidos pelo encolhimento dos mercados de crédito, imóveis, produção e investimentos, maximizados pela depreciação da riqueza financeira, com as vultosas perdas acusadas pelas principais Bolsas de Valores do planeta, e pela disparada dos juros no mercado interbancário.

As peculiaridades da atual etapa descendente do ciclo do capitalismo podem ser retratadas pelo comportamento de algumas variáveis micro, que interferem no consumo e no investimento privado, delineando o ambiente enxergado por Keynes, quando da interpretação da Grande Depressão dos anos 1930.

Levantamento efetuado pela Consultoria Economática apontou que 122 empresas da América acusaram queda no valor de mercado superior a 80% em 2008. As companhias, agrupadas, valiam US$ 7,7 bilhões no final de 2008 contra US$ 59,7 bilhões em fins de 2007.

As perdas mais relevantes foram da norte-americana Idearc, que atua no segmento de publicações de páginas amarelas (-99,9%) e do banco Lehman Brothers (-99,7%). Em valores monetários, a maior redução de valor aconteceu com a seguradora AIG (-US$ 143,6 bilhões), ou -97,1%.

A Economática pesquisou as 1.888 empresas com maior valor de mercado nos em 31 de dezembro de 2007 na América Latina e nos Estados Unidos (EUA), sendo 357 brasileiras, 173 chilenas, 108 mexicanas, 105 peruanas, 80 argentinas, 38 venezuelanas, 27 colombianas e 1.000 norte-americanas.

Na área imobiliária, a comercialização de residências novas e usadas diminuiu 35,0% e 11,0%, respectivamente, em 2008, nos EUA, atingindo o menor nível em 17 anos, e os preços dos imóveis novos caíram 12,0%, representando a maior queda desde 1968.

As encomendas de bens duráveis recuaram 5,7% em 2008, o 2º pior desempenho desde 2001, contra crescimento de 1,3% em 2007. Só em dezembro de 2008, os pedidos caíram 2,6%, caracterizando a 5ª queda mensal consecutiva, de acordo com o Departamento do Comércio.

A Ford, segunda maior fabricante de veículos dos EUA, registrou vendas de 13,2 milhões de unidades de veículos de passeio em 2008 naquele país, ante os 16,2 milhões de 2007, declínio comparável somente ao verificado em 1974, durante o ápice do I choque do petróleo. Ademais, exibiu prejuízo de 14,6 bilhões em 2008, o maior da história da companhia, inaugurada em 1903. No último trimestre de 2008, o prejuízo foi de US$ 3,3 bilhões, sendo US$ 1,9 bilhão apenas nos EUA.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas e editor da Revista Vitrine da Conjuntura da FAE Business School.

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