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Ministro Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro promete anunciar o partido ao qual irá se filiar até o fim de março.
Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Evaristo Sá/AFP)

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A troca de Eduardo Pazuello por Marcelo Queiroga no comando da pasta da Saúde altera muito pouco a dinâmica decisória enfrentada pelo país durante a pandemia. Apesar da troca de ministros, não haverá, na verdade, troca de comando. As ideias seguem as mesmas, assim como as diretrizes governamentais. Troca-se o titular, mas, de fato, o ministro da Saúde segue sendo Jair Messias Bolsonaro.

Esta é uma péssima notícia para o país, uma vez que a condução do combate à pandemia tem sido desastrosa em todos os aspectos, desde a negação da ciência, passando pela rejeição das regras de distanciamento social e o ceticismo em relação à vacina. Temas que já deveriam estar superados mantêm o Brasil preso a dogmas ultrapassados que acabam por ceifar vidas de forma brutal e cruel.

A possibilidade de termos no comando da pasta a médica Ludhmila Hajjar foi apenas um sopro de esperança que logo se dissipou. Defensora das práticas de isolamento social e uso de máscaras, ela defende também que o uso de medicamentos como a cloroquina é ineficaz no tratamento contra o coronavírus. Em pouco tempo virou alvo das redes bolsonaristas e viu sua reputação ser atacada de forma vil e cruel. Não aceitou o posto após ter certeza de que não teria autonomia no comando do ministério.

A negativa da médica Ludhmila Hajjar expõe as vísceras de um governo que peca pela ausência de gestão em frentes sensíveis como a área de saúde. Depois de tudo, ficou uma certeza: encontramos a ministra da Saúde de que o Brasil precisa. Faltou apenas encontrar um presidente. Na falta de um, perdemos mais um nome de qualidade disposto a assumir a pasta da Saúde em meio à pandemia.

Na verdade, Bolsonaro quer um ministro da Saúde que seja apenas um nome de frente que execute suas diretrizes. O ministro é Bolsonaro e quer continuar a sê-lo, mesmo com a troca de comando na pasta. Não foi por outro motivo que, até este momento, contava com um general da ativa como ministro. Ele precisa de alguém que acate suas orientações e determinações sem questionamentos.

Bolsonaro encontrou em Marcelo Queiroga alguém que defenderá seus dogmas, dando continuidade ao trabalho de Pazuello. Mudou o ministro para nada mudar; afinal, o ministro apenas executa a política determinada pelo presidente, como já indicou Queiroga. Entra, portanto, sem autonomia e com a certeza de que terá muito pouca margem de manobra para mudar os rumos dentro do Ministério da Saúde.

No âmbito político, Bolsonaro sai machucado. Depois de rejeitar as opções técnicas e políticas com respaldo nas esferas de poder, o presidente optou pelo caminho de uma opção pessoal. Uma escolha que terá um custo, que pode ser caro diante dos resultados que veremos daqui por diante.

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Os limites do Centrão costumam se impor quando o governo se torna politicamente inviável. Isto significa que o grupo não será tragado para o insucesso do governo durante a pandemia e, caso necessite trocar o ministro mais uma vez, pode avaliar que quem realmente precisa ser exonerado é o ministro Bolsonaro, aquele que, além comandar a pasta da Saúde, responde também pela Presidência da República.

Márcio Coimbra é cientista político, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, ex-diretor da Apex-Brasil e diretor-executivo do Interlegis no Senado Federal. 

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