• Carregando...

A cidade, no conceito moderno de planejamento, precisa ser vista como um conjunto de necessidades a serem atendidas. Não se pode mais administrar este ou aquele problema

Os grandes desafios dos administradores das cidades precisam ser vistos de forma conjunta. Não há nenhuma dúvida de que saneamento – em especial a destinação do lixo – habitação, transporte, abastecimento, poluição são alguns dos principais obstáculos para uma boa gestão pública municipal. Mas, efetivamente são questões que precisam ser vistas de forma global e conjunta, dentro do grande conceito de mobilidade sustentável.

Embora este conceito seja absolutamente novo no Brasil, nos demais países é ele quem responde pelo pensar do futuro das cidades, cada qual com suas características típicas e prioridades.

Cidades da Europa e América do Norte precisam ser observadas porque já consolidaram um conceito de mobilidade e desenvolveram indicadores para sua monitoração.

No Velho Continente, o objetivo principal se situa em integrar os problemas do meio ambiente às demais políticas públicas. Já, nos Estados Unidos, existem sistemas de indicadores desenvolvidos em todos os níveis, que se transformam em planos estratégicos estabelecidos pelo governo.

Já, em nosso país, o conceito de sustentabilidade ambiental, econômica e social ainda engatinha, mas precisa ser transformado em prática em curto prazo. Não há mais como se administrar uma cidade apenas se voltando a resolver problemas pontuais ou localizados. Ela precisa ser vista a partir do conceito da mobilidade.

O planejamento urbano precisa levar em conta a infraestrutura disponível em cada uma das regiões que se pretende adensar. Não se pode mais se condenar às periferias a população mais volumosa e de baixa renda. É necessário levar o emprego aonde o adensamento é possível, criando novos polos de desenvolvimento econômico. Também é preciso se resgatar os centros de nossas cidades, transformados em verdadeiros desertos ao cair da noite.

Políticas públicas de transporte, trânsito e de uso e ocupação do solo precisam ser elaboradas de maneira conjunta e harmoniosa.

A questão do transporte urbano ilustra muito bem essa necessidade. Há cada vez mais veículos de passeio circulando nas cidades, que respondem por 19% dos deslocamentos realizados diariamente, segundo dados do Instituto da Mobilidade Sustentável. Eles disputam espaço no dia a dia com os ônibus que transportam cerca de 71% das pessoas. Juntos, carros e ônibus, respondem por 80% do ruído provocado no espaço urbano e por mais de 65% da poluição.

Administrar, nesse caso específico, não é apenas garantir mais espaço ao transporte coletivo. A interferência do administrador precisará levar em conta todos os demais fatores envolvidos.

A cidade não pode ser refém da violência e da criminalidade, fruto da ausência do emprego; a cidade não deve se submeter ao caos do tráfego, resultado da prioridade ao carro e não ao transporte de massa e aos meios alternativos de locomoção; a cidade não pode se render às florestas de arranha-céus, que escondem o sol, resultado da crescente especulação imobiliária.

A cidade, no conceito moderno de planejamento, precisa ser vista como um conjunto de necessidades a serem atendidas. Não se pode mais administrar este ou aquele problema. Há necessidade de se ter uma visão global. Não há mais espaço para remendos ou meia-solas. A evolução da cidadania nos cobra muito mais e a tecnologia está cada vez mais a nosso dispor. É este o novo grande desafio que se coloca ante aqueles que pretendem conduzir os destinos das cidades e dos cidadãos.

Stephanes Junior, deputado estadual (PMDB), é ex-secretário estadual de Administração e ex-vereador.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]