• Carregando...

A droga ilícita é um limbo sombrio, enrustido, silente, mas com efeitos devastadores. Deve ser tratada como um problema policial, sim, mas também como um problema social e de saúde pública, a exemplo do câncer, álcool, tabaco, aids, gripe A, e com intensa participação das comunidades científica e civil, da mídia e das escolas.

Na década de 70, o câncer era uma palavra maldita e impronunciável, e hoje o tema circula abertamente em qualquer ambiente, facilitando a prevenção e o diagnóstico.

Tabu, vergonha extrema e preconceito pairavam sobre os infectados pela aids. O HIV saiu do armário escuro, as causas da transmissão são amplamente conhecidas. Projetava-se uma pandemia, e, no entanto, o vírus navega em uma curva decrescente, com queda de 17% nos últimos oito anos. Analogamente, embora não eivado de preconceito, o surto da gripe A se amainou quando todos os holofotes foram lançados sobre o problema e pela mudança de hábitos da população.

Há 20 anos, começaram as medidas antitabagistas por causa dos malefícios à saúde, à estética pessoal, ao fumante passivo. O descenso no número de fumantes foi de 32% para 17% da população brasileira, atingindo-se um dos mais baixos índices do mundo. O número de ex-fumantes (26 milhões) já supera o de fumantes (24,6 milhões). Mais um exemplo de que, no início do banimento do cigarro, o fogo gerou muito calor (embates), e na sequência muita luz.

Dados recentes da Secretaria Nacional sobre Drogas (Senad) indicam que cerca de 12% da população brasileira têm algum tipo de dependência em álcool ou outras drogas e que geram comportamentos de risco ou violência.

Não se trata de advogar a total abstinência da bebida, pois todos sabem ─ evidentemente com temperança ─ dos benefícios da descontração e alegria de alguns copos de cerveja na companhia dos amigos ou do vinho na presença de quem se ama. Só para fazer blague: uma das maiores descobertas da ciência foi o resveratrol contido no vinho tinto, que é benéfico ao coração. Onde reside o problema? Evidentemente, há pessoas que não sabem beber, e "a diferença entre o veneno e o remédio é uma questão de dosagem".

Em relação aos entorpecentes ilícitos, duas atitudes extremadas são comumente manifestadas em relação ao usuário: como um delinquente ou então como um coitadinho. Nada pior. Nada de marginalização e tampouco de leniência ou lirismo, uma vez que o usuário é coautor dos delitos praticados pelos traficantes.

Estamos iniciando mais uma década e vislumbro que poucos temas serão tão recorrentes, quanto o álcool, a maconha, a cocaína, o crack e os alucinógenos.

Com o intuito de tornar a maconha mais atraente, os traficantes investiram pesadamente no incremento da potência da cannabis, a ponto de seus malefícios estarem próximos aos de outras drogas com origem em plantas, como a cocaína e a heroína.

As drogas sintéticas ─ ecstasy e LSD ─ mais consumidas nas raves e na night podem ser facilmente adquiridas pela internet, nas baladas ou através dos colegas universitários. Ademais, alegando-se um suposto controle de qualidade na produção, fez-se com que o incremento de usuários aumentasse em 115%, desde 1990.

O crack provoca dependência quase instantânea, e seus efeitos são devastadores à saúde física, mental e moral. É apavorante o aumento no número de apreensões no Paraná: 1.110% nos últimos quatro anos, conforme declaração do Secretário de Segurança Pública à Gazeta do Povo.

Percorreu-se, e ainda se percorre, um espinhoso caminho na busca da redução dos danos causados pelo câncer, tabaco, aids, gripe A e pelos preconceitos. Maior é o desafio no combate inclemente às drogas ilícitas, ao glamour e aos excessos da bebida. Cada problema com sua peculiaridade, sua fita métrica.

É imprescindível a intensa participação do governo, da comunidade científica e civil, da mídia e das escolas. Não há problema que se resolva, sem que projetemos alguma ou muita luz sobre ele. Maior deve ser a energia nesse enfrentamento. Haja luz! Fiat lux, manifestou-se o Criador ante as trevas que cobriam a Terra.

Jacir J. Venturi é diretor de escola, vice-presidente do Sinepe/PR, autor do livro "Da Sabedoria Clássica à Popular" e por 35 anos foi professor de escolas públicas e privadas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]