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Após os 65 anos da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, comemorada amanhã, os locais que cortam o Monte Castelo foram demarcados por números registrados nos troncos das castanheiras

Quando o capelão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) João Soren, após a conquista de Monte Castelo no dia 21 de fevereiro de 1945, saiu à procura dos soldados desaparecidos em ação nos combates anteriores, não tinha certeza de se iria encontrá-los. As buscas estavam centradas nas vizinhanças da comuna Gaggio Montano ao sul de Bolonha. Lá estava o morro desafiador, que na história do Exército Brasileiro demarcou um tempo os dias da Linha Gótica com sua topografia acidentada, fator de grande sofrimento para os brasileiros nas batalhas de vida e morte durante a Segunda Guerra Mundial.

Na ânsia que estava o 5.º Exército Americano em tomar de assalto a cidade de Bolonha, último baluarte alemão na Itália, criava-se uma expectativa no comando brasileiro, pois as tropas aliadas estavam impedidas de avançar. Era necessário desviar o foco do comando alemão. Do mês de novembro de 1944 em dian­­te, atacar o Monte Castelo tornou-se missão de honra da FEB, no sentido de minar as forças de outras tropas inimigas.

Para entender os acontecimentos ocorridos nesta região, os registros históricos e a memória dos soldados constituem fontes obrigatórias. Os brasileiros não eram mais iniciantes na missão de guerra, as batalhas ocorridas no vale do rio Sercchio haviam transformado esses homens em verdadeiros combatentes, mas ineptamente empregados nos ataques ao Monte Castelo pela Task Force 45 sob o comando americano, encerrando o ano de 1944 com grandes decepções e infortúnios.

No Brasil, as notícias que vinham do front brasileiro na Itália chegavam por meio dos correspondentes brasileiros e estrangeiros. Nessa fase, o Monte Castelo tornou-se uma imagem negativa para os soldados da FEB, chegando a ser denominado como "Mon­­te Maldito" ou "Monte Fantasma".

Na região onde está o Monte Castelo muitos combatentes se destacaram. Dos paranaenses ainda vivos lembramos Geraldino Werner, ferido em novembro de 1944 pelo deslocamento de ar de uma bomba no sopé de Monte Castelo, e Alfredo Klas, que testemunhou o combate ocorrido na localidade de Abetaia, diante de um inimigo aguerrido. Se não tivessem sido feitos prisioneiros, provavelmente estariam mortos e insepultos entre os dias 11 e 12 de dezembro de 1944, por ocasião do forte bombardeio.

No dia 19 de fevereiro de 1945, a agitação em torno do Monte Castelo foi crescendo com a movimentação dos soldados que iam galgando as posições inimigas. O ambiente era de confiança e seguido atentamente pelos correspondentes. O general Cordeiro de Farias, acompanhando com um binóculo, num fiapo de voz disse: "Todo mundo está andando". Na fatídica tarde de 21 de fevereiro, o Monte Castelo caiu.

No cume do morro, nos dias que se sucederam, o capelão Soren e os soldados persistiam na busca dos soldados desaparecidos. Acabou por encontrá-los entre os destroços dos casarios, todos juntos, quase em formação de combate. Os corpos insepultos por dois meses tinham sido preservados pela neve e causaram profunda comoção entre os presentes. Nos anais da FEB, ficaram conhecidos como os 17 de Abetaia.

Entre os dias 21 e 23 de fevereiro de 1945, o correspondente Joel Silveira escreveu: "Os caminhos estavam inteiramente in­­transitáveis, havia muitas armadilhas, campos e estradas estavam minados". Essas foram as últimas notícias sobre a presença de brasileiros nessa frente italiana.

Após os 65 anos da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, comemorada amanhã, os locais que cortam o Monte Castelo foram demarcados por números registrados nos troncos das castanheiras, indicando os caminhos a serem seguidos por um visitante curioso, como a lembrar aos pósteros que naquele local, um dia, soldados da FEB se bateram pelos ideais democráticos que ajudaram a moldar o mundo.

Carmen Lúcia Rigoni é historiadora e membro do Instituto Histórico Geográfico do Paraná.

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