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| Foto: Mauro Pimentel/AFP

Imagine que você é um empresário, e um dos seus empregados tem, ano após ano, um excelente desempenho: alta produtividade, ótimos resultados, espírito de equipe, excelente know-how, etc. Você o promove ou não o promove?

Imagine que você é esse empregado: você aceita ou não aceita a promoção?

A nomeação de Sérgio Moro para o Ministério do Justiça nada mais é do que o efeito natural do trabalho que ele exerceu nos últimos anos – e por “últimos anos” entenda-se anos antes do início da Lava Jato, quando o juiz ainda trabalhava no caso Banestado (entre 2003 e 2007), na Operação Farol da Colina (2004) e até no Mensalão (como auxiliar da ministra Rosa Weber), contribuindo ao todo com mais de 300 condenações.

Se alguém demonstra tamanho empenho e eficiência no combate à corrupção, por que mantê-lo limitado à jurisdição de um juiz federal de primeiro grau em Curitiba? Por que não expandir sua atuação a todo o imenso universo de estatais e órgãos públicos vinculados, direta ou indiretamente, ao Governo Federal?

Por causa da narrativa petista de que Moro bancou a Lava Jato por interesses políticos? Ora, bolas! Alguém fora da Lacrolândia realmente cai nesse conto da carochinha?

O Ministério da Justiça é o principal braço do presidente da República no que se refere a políticas de combate à corrupção

Quer dizer que Moro, em julho de 2017 (quando condenou o Lula), estava prevendo que Bolsonaro se tornaria presidente? Quer dizer que, em 2014, quando começaram as investigações da Lava Jato (que naturalmente chegariam a Lula), ele já previa que Bolsonaro seria presidente, quando este próprio ainda nem sonhava com isso?

Quer dizer que os três desembargadores do TRF-4 que mantiveram a condenação de Lula e ainda agravaram a pena também estavam mancomunados com o mirabolante plano de Moro de ser ministro do futuro governo Bolsonaro? O mesmo vale para os cinco ministros do STJ e mais seis do STF que negaram sucessivos habeas corpus impetrados pela defesa de Lula?

Quer dizer que o Ministério Público, que propôs a denúncia com vastas provas produzidas pela Polícia Federal, também estava, junto com esta, envolvido no mirabolante plano de Moro? E também a imprensa, que deu ampla cobertura do caso, inclusive publicando muitas das provas juntadas aos autos?

Agora, se os efeitos dessa tese sobre a reputação da Lava Jato são o malefício da decisão de Bolsonaro e Moro, que tal o compararmos com os seus benefícios?

Opinião da Gazeta: Sergio Moro e o bem comum (editorial de 2 de novembro de 2018)

Leia também: O Judiciário e o encanto da política (artigo de Francis Augusto Goes Ricken, publicado em 7 de novembro de 2018)

O Ministério da Justiça é o principal braço do presidente da República no que se refere a políticas de combate à corrupção. É ele o responsável pela nomeação (mediante chancela do presidente) do diretor-geral da Polícia Federal, entidade competente para abrir inquéritos envolvendo todas as estatais e órgãos vinculados ao Governo Federal. No “superministério” montado pelo presidente eleito, Moro também coordenará a Controladoria Geral da União (CGU) , órgão responsável pelo controle interno, auditoria pública, correição, ouvidoria, prevenção e combate à corrupção, e também o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável por disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividade ilícitas relacionada à lavagem de dinheiro.

A pergunta então é simples: Moro no Ministério da Justiça é um avanço ou um retrocesso na política nacional de combate à corrupção? É uma mácula na Lava Jato ou uma medalha no seu peito?

Não era nem para estarmos discutindo isso...

Victor Gadelha é advogado, formado pela USP, com especialização em Direito Internacional no Ibmec, em Administração no Centro Universitário di Organizzazione Aziendale (Vicenza, Itália) e em Análise de Tributos Indiretos na IOB-Sage.
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