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O assassinato de Evandro João da Silva, cujas imagens foram tornadas públicas, traz à tona muitas questões a re­­fletir. Vou focar em duas mais em voga na mídia e nos discursos demagógicos dos go­­ver­­nantes. A primeira diz respeito à cultura da violência em oposição à almejada cultura da paz pela sociedade brasileira e a outra à corrupção policial (não necessariamente da instituição Polícia Militar).

Todos nós, homens e mulheres, independentemente da idade, cor, credo, situação financeira, orientação sexual, escolaridade, nos sentimos à mercê de uma situação insustentável de insegurança que se inicia com a violência dentro dos lares e que não termina nem mesmo com a morte de seres humanos. Em muitos casos, o sentimento de direito à represália leva à destruição de pessoas em suas casas, escolas, hospitais, presídios, supermercados, onde estiverem sinalizando que a marginalidade ganha força, espaço e lugar, sem que tenhamos políticas intencionalmente preparadas para responder com competência aos anseios da população.

Dar armas e poder a pessoas sem a devida formação e informação, colocá-las diariamente em situações de conflito que definem quem vive e quem morre, eliminar dos policiais o sentimento de pertencimento à população e colocá-los como mediadores de uma guerra de poder entre bandidos e gestores sem o devido reconhecimento de que as vidas humanas não têm preço, dar aos policiais a referência de um Estado desprovido de valores, em que a corrupção e o jogo de interesses pessoais e partidários estão acima do bem estar da população, corresponde ao conjunto de fatores que estimula a conduta marginal e a corrupção.

De um modo geral as estatísticas estão aí para mostrar em dados quantitativos o que vínhamos tentando refletir qualitativamente pelo paradigma da educação preventiva integral. Tomando como base a imagem do suposto líder da operação que derrubou o helicóptero da polícia no Rio de Janeiro há poucas semanas, o co­­mando marginal é representado por uma juventude ousada, criativa, com um potencial de mo­­bilização assustador e que não tem nada de moleque. Tem sim, expressa em sua face e em suas atitudes, uma adultidade assustadora, possivelmente assumida muito precocemente, em corpo e mente infantil ou adolescente, sinal da ausência de valores referenciais nas primeiras fases do desenvolvimento humano e no seu viver adolescente. Não me surpreenderei se encontrarem os responsáveis pelo assassinato de Evandro e descobrirem que são bastante jovens.

Bronfenbrenner (2002) afirma: "As explicações sobre aquilo que fazemos serão encontradas nas interações entre as características das pessoas e seus ambientes, passados e presentes. Os efeitos principais estão na interação. Se queremos mudar os comportamentos, precisamos mudar os ambientes".

A falência das políticas para a infância e juventude (sua inexistência ou inadequação) direciona a juventude a buscar de modo rápido o acesso aos bens de consumo apregoados pelo modelo social que a economia mundial dita e o nosso "pobre" (em valores) país imita. Não queremos trazer à tona a equivocada discussão sobre a diminuição da maioridade penal e sim eliminá-la para sempre. Exigir prioridade absoluta para crianças e adolescentes, garantindo-lhes o desenvolvimento adequado, o acesso à educação, aos bens culturais, à segurança familiar, a educação política para serem e saberem escolher no futuro o quadro político de nosso país.

Araci Asinelli da Luz é professora do Setor de Educação da UFPR

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