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Temos o melhor transporte coletivo do país. Recebemos centenas de delegações nacionais e estrangeiras todos os anos atrás de informações sobre o funcionamento do nosso sistema de transporte público. São mais de 2.500 ônibus transportando diariamente 2 milhões de passageiros, integrando 13 municípios com tarifa única. Em termos sociais, sem sombra de dúvida, é o maior sistema do país. Tudo isso só foi possível com três décadas de planejamento urbano, projetos e eixos de desenvolvimento e, principalmente, com políticas públicas voltadas para o transporte coletivo de Curitiba e de sua região metropolitana.

Nossa cidade foi pioneira na implantação desse conceito de transporte, o que permitiu que, além da população de Curitiba, uma pessoa que resida em Colombo possa trabalhar em São José dos Pinhais ou Araucária pagando apenas uma tarifa para fazer seu trajeto.

Um sistema de transporte coletivo não é algo acabado, que tem um fim, não é uma obra conclusa: precisa estar sempre sendo repensado e planejado.

O que está sendo proposto agora é abandonar o planejamento e as conquistas de décadas de trabalho. Nosso sistema de transporte tem indicadores excepcionais de abrangência de atendimento, de tipos diferenciados de serviços e na qualidade e confiabilidade na operação.

Mas de fato, como toda grande cidade e região, temos problemas de mobilidade e de trânsito. Nossas cidades estão cada vez mais congestionadas, estamos na casa de 1 milhão de veículos. Esses fatores, aliados ao não-investimento em infra-estrutura urbana, são os principais geradores desses problemas. Além disso, há as questões de meio ambiente e de qualidade de vida, indicadores que sempre foram positivos em nossa cidade e que passam por contínua piora por conta disso.

Pensar em melhoria de transporte público não é a opção por um outro modal. A proposta do metrô – que atenderá uma parcela muito pequena dos usuários de transporte, algo em torno de 20%, que endividará a cidade, que causará enorme transtorno em obras, que levará muito tempo para entrar em operação e que, sem sombra de dúvida, elevará os custos de tarifa para os usuários –, com certeza não é a melhor opção. O custo/benefício da implantação do metrô ainda não se justifica para nossas cidades.

Além das questões pontuadas, ainda temos a relação de no mínimo 20 vezes o custo de construção de 1 quilômetro de metrô comparado ao custo de, por exemplo, 1 quilômetro de canaletas exclusivas. O trajeto proposto atenderá um eixo já estabelecido de transporte, numa extensão de aproximadamente 22 quilômetros onde se verificou, em determinado trecho, nos últimos 10 anos, um decréscimo da ordem de 70% dos usuários no horário de pico. O projeto não trará nenhum benefício em oferta de novas opções de itinerários que venham a contemplar os desejos de deslocamento dos usuários.

Ainda, não podemos deixar de destacar as projeções de crescimento exorbitantes para as cidades da região metropolitana para os próximos 10 anos, em contra-partida de um crescimento módico para Curitiba.

Soluções para a demanda atual e para a demanda que irá surgir nos próximos anos partem da continuidade das conquistas de todos nós. Parte da continuidade dos conceitos de transporte já consolidados em nosso sistema, tais como: investimento em infra-estrutura urbana, a fim de possibilitar o aumento da velocidade operacional do sistema; ampliação e melhora das condições operacionais da malha de canaletas exclusivas; e adoção de serviços que incorporem rapidez, conforto e segurança aos usuários, o que se reflete em tarifas equilibradas e economicamente responsáveis. Estas são algumas dentre soluções para a melhoria de nosso sistema.

O sistema de transporte coletivo é de todos; é de Curitiba, de Colombo, Araucária, Fazenda Rio Grande... Uma discussão de futuro é uma discussão de todos. Temos a opção de continuar sendo referência mundial em transporte coletivo ou optar por endividar gerações de nossa cidade, aplicar recursos de outros setores necessários como a saúde, educação e segurança e privilegiar poucos em detrimento da grande maioria.

Rodrigo Corleto Hoelzl é engenheiro civil, especialista em Logística de Transporte e presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e região metropolitana.

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