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Perdas e desperdícios de alimentos afetam a sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduzem a disponibilidade local e global de alimentos, reduzem a renda dos produtores, elevam os preços para os consumidores e têm um impacto negativo sobre a sua nutrição e saúde. Além disso, afetam o meio ambiente pelo uso insustentável dos recursos naturais.

Perdas se referem a algo não intencional e ocorrem em toda a cadeia produtiva desde o plantio até o consumidor devido à falta de infraestrutura adequada. São muitas e muitas as causas. Entre as principais estão o manuseio inadequado dos produtos no campo, a falta de classificação padronizada na cadeia produtiva, o uso de embalagens inadequadas, veículos supercarregados, estradas deficientes e até o excesso de manuseio dos produtos por parte dos consumidores e de produtos nas gôndolas de exposição.

Já o desperdício ocorre geralmente na venda e no manuseio posterior pelo consumidor. É o caso de alimentos com data de fabricação vencida, produtos considerados “feios” e, por isso, descartados, além das sobras de alimentos ocorridas em restaurantes, hotéis, residências, etc.

O consumidor não costuma notar que é responsável por parte importante do exagerado volume do desperdício

Se, de um lado é possível aumentar a oferta de alimentos, por outro, e talvez mais fácil, cada um pode reduzir as perdas que começam na pré-colheita e vão ao pós-consumo. Governo, empresas privadas, atacadistas e varejistas sabem o que fazer e por motivos diversos podem não cumprir seu papel. O consumidor, que às vezes é desinformado ou desatento, não costuma notar que é responsável por parte importante do exagerado volume do desperdício.

Algumas dicas são muito simples: a primeira é planejar as refeições, elaborando cardápios semanais, por exemplo; levar lista detalhada para as compras depois de olhar o que falta na geladeira e no armário; não se inibir de comprar ou consumir frutas, legumes e verduras “feios” e ou defeituosos. Eles são perfeitamente adequados para consumo já que possuem as mesmas características nutricionais que os “bonitos”. Dessa forma, reduz-se a quantidade de alimentos que vão para a lixeira, sem necessidade. Na compra, cuidado com o manuseio errado ou excessivo, pois podemos danificar o alimento e aumentar o desperdício.

E há os talos, hastes, folhas e cascas de alguns vegetais. Por que desprezá-los? Há receitas de tortas, sopas e refogados capazes de transformá-los em pratos não apenas nutritivos, mas muito saborosos. E, na hora de comer, ensinar as crianças a servir pequenas quantidades no prato. Se não for suficiente, sempre é possível voltar a preencher o espaço vazio do prato.

Leia também: Desperdício e o “novo” modelo do sistema alimentar (artigo de Caroline Filla Rosaneli, publicado em 20 de novembro de 2016)

Leia também: A culpa não é só das mudanças climáticas (artigo de Gleriani Ferreira, publicado em 23 de setembro de 2018)

Nós, consumidores, às vezes achamos que não fazemos a diferença, mas a criação de uma cultura de aproveitamento dos alimentos evitaria volumosos custos ambientais, que incluem o desperdício de energia e insumos utilizados na fase de produção (água, combustível, adubos, defensivos), distribuição (embalagens, transporte) e armazenamento. Adicionalmente, os alimentos depositados em aterros sanitários, ou simplesmente descartados no ambiente, produzem metano, gás com efeito estufa 23 vezes mais potente do que dióxido de carbono.

Reduzir as perdas e o desperdício de alimentos é fundamental para a sustentabilidade do meio ambiente, para a maior eficiência do uso da água, dos insumos agrícolas e para o uso sustentável da energia gasta na produção de alimentos no campo. Bom para a economia, bom para a saúde.

Murillo Freire Júnior é pesquisador da Embrapa.
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