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Inauguração do novo prédio da Universidade Federal do Paraná, sede Rebouças, em Curitiba.
Inauguração do novo prédio da Universidade Federal do Paraná, sede Rebouças, em Curitiba.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Nenhuma instituição dá tanta contribuição ao desenvolvimento científico como as universidades. E um governo patriótico, que entenda os rumos da era do conhecimento, deve ampliar recursos para o ensino superior e, ao mesmo tempo, enfrentar a tragédia da educação de base, saindo da calamidade do analfabetismo

A decisão de cortar recursos das universidades federais mostra um governo cego para os novos rumos da história. Igualmente grave é que as oposições tampouco parecem ter alternativas que assumam a importância da educação para o futuro do país. O governo trata as universidades com desprezo porque elas não pertencem ao seu grupo ideológico, mas na comunidade acadêmica muitos tratam a instituição como se pertencesse a seus alunos, professores e servidores e não ao povo brasileiro que financia seus gastos.

Nenhuma instituição dá tanta contribuição ao desenvolvimento científico como as universidades

O governo atual não entende qual é o papel das universidades e quer descaracterizá-las; as oposições, por sua vez, continuam a vê-las como escada de ascensão para os que nela entram. Não conseguem enxergar as universidades como alavanca para o progresso econômico e social. O ensino superior é um instrumento de ascensão pessoal para quem se forma, mas a formação não é apenas para beneficiar o indivíduo, mas para servir ao conhecimento e à formação de profissionais que permitam melhorar o país.

Mesmo políticas que parecem destinadas a beneficiar indivíduos, só se justificam em instituições públicas se beneficiam o país. Ao mudar a imagem do Brasil, mudando a cor da cara da elite brasileira, as cotas para afrodescendentes beneficiam mais todo o país do que o jovem negro cotista. O atual governo não gosta das cotas e as oposições as veem como escada para o jovem beneficiado e não como uma alavanca para o Brasil.

Por isso, enquanto o governo ameaça a sobrevivência da universidade, as oposições não acenam com um projeto que vá além da sobrevivência e justifique para o povo o papel delas como vetor decisivo para o progresso. A universidade pública deve ajudar o Brasil a sair da tragédia da educação de base, começando pela erradicação do analfabetismo, construindo métodos e políticas para que todos os jovens brasileiros terminem o ensino médio com qualidade, independentemente da renda e do endereço da família.

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As universidades precisam estar sintonizadas com o futuro, não com o presente, e mais com o país, não com sua própria comunidade, mais com a tolerância não com seitas, mais com o mérito menos com apadrinhamentos. Elas devem lutar por mais recursos, mostrando eficiência, austeridade e adotar papel preponderante na revolução educacional, tendo ambiciosa estratégia de promoção de conhecimento científico e tecnológico.

Sobretudo, as universidades públicas são nossas, do país e de seu povo. Não pertencem ao governo obscurantista que passará, tampouco a suas corporações; e que, diferentemente do governo, voltarão a ser tolerantes com todas posições políticas, sem sectarismos, porque elas são nossas, são de todos.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.

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