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O povo brasileiro vive o paradoxo da alegria com frustração. Alegra-se ao constatar que, pelo seu esforço, o país cresce, mas não ne­­cessariamente se desenvolve. Por isso frustra-se ao ver que o resultado do seu trabalho não proporciona bem-estar a todos. Vejamos os serviços básicos: vivemos em cidades inseguras, nossas escolas estão desequipadas e com baixa qualidade de ensino e o atendimento de saúde é realizado por um sistema deficiente.

Vem de longe a constatação de que, no Brasil, a separação da política e da vida social aumenta a cada dia. O grau de dominação das instituições políticas ensejou o surgimento, em toda parte, de oligarquias nefastas, muitas vezes corruptas e quase sempre autocráticas.

Por isso é necessário construir, com urgência, uma ponte entre o país real que habitamos e o Estado formal, hoje totalmente contaminado pela burocracia centralizadora. Isso significa conquistar, efetivamente, o direito dos cidadãos de participar da gestão pública.

Mas qual a fórmula para que isso aconteça? Certamente que não existe uma fórmula. Eu acredito especialmente que é possível inaugurar novas formas de fazer a política a partir do fortalecimento do poder local. Não trato aqui do poder constituído – que merece todo o nosso respeito e é essencial no processo democrático – mas sim do fortalecimento da atuação da sociedade na vida pública da sua cidade.

Podemos e devemos construir e operar políticas públicas de baixo para cima a partir da realidade de cada localidade. Isso fará surgir uma nova matriz de ação política, apoiada nas redes sociais a que nos conectamos e na facilidade de identificar interesses e objetivos comuns. Minha crença é de que é pelo município que começará a grande reforma da política, destinada a tornar o Brasil mais justo e próspero.

Não há dúvida de que o nosso país vive um novo tempo de mudanças. Há condições de olhar com esperança para o futuro e imaginar que, com a mobilização da sociedade e a sua crescente organização em redes de interação política, voltadas ao desenvolvimento humano e social sustentável do local, podemos nos aproximar dos melhores índices de desenvolvimento.

Contudo, é imperativo mudar a maneira como nós, brasileiros, fazemos e influímos na política. É hora de nos convertermos em atores relevantes neste processo e não de continuar no papel de coadjuvantes chamados para legitimar decisões tomadas de cima para baixo.

Essa condição atinge todo e qualquer cidadão, mas é agravante para nós empresários e é preciso fazer um mea culpa: estamos acostumados a falar apenas para nós mesmos. Nossa tônica é corporativa, tendo sempre a nós próprios como sujeitos. Não estamos acostumados a fazer propostas a outros setores da sociedade. No máximo, dialogamos a partir de projetos que, de algum modo, respondam a nossos interesses. É um discurso que está desgastado.

Por isso devemos nos envolver num novo processo. O surgimento e multiplicação de novos atores sociais, articulados em rede, são a pedra de toque para favorecer o surgimento de uma nova política democrática, não apenas representativa, reativa e reivindicativa, mas acima de tudo participativa e interativa.

O ano de 2010 poderá ser marcante na história política brasileira. A chance é de grande renovação nos quadros tanto na esfera federal quanto na estadual, e com evidentes consequências regionais. Momento mais do que propício, portanto, para promovermos uma mudança também na forma como participamos da política.

E o que entendemos por participação política não é somente a influência sobre a política em nível macro – aquela reservada ao governo central e alvo de intensa disputa pelos políticos profissionais – mas uma política que se traduza como iniciativa de articulação das localidades, envolvendo empresariado, poder público e sociedade civil em torno de uma agenda de desenvolvimento comum.

Essa é uma forma de fazer com que a energia da sociedade chegue a todos os ramos do governo como a seiva que sobe pelo tronco da árvore e alimenta seus ramos. Hoje ela não chega porque, de certa forma, nós somos parte do apagão gerencial que prejudica o desenvolvimento do país.

Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep)

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