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"Nascemos com potencialidades imensas, mas só as atualizamos pela aprendizagem."Esther Pillar Grossi

Projeto amplia para nove anos o ensino fundamental, tirando o Brasil, quando comparado com outros países, de uma situação de atraso. Pesquisa da Unesco mostra que o Brasil é um dos países que menos garantem estudo às crianças na América do Sul, apenas o Suriname vai pior nesse quesito. Em nosso país, são garantidos por lei 8 anos de estudo; no Suriname, 6 anos. Com a nova legislação, as crianças terão garantido um lugar na escola a partir dos 6 anos de idade.

Pesquisas têm demonstrado que cada ano a mais na escola resulta em um aumento de renda de 10% no futuro. Dados do MEC têm dito que estudantes que cursam a pré-escola colhem resultados no decorrer da vida acadêmica até 15% superiores àqueles obtidos por alunos que ingressam no ensino fundamental com 7 anos. Como no Brasil 700 mil crianças nunca pisaram numa sala de aula antes dessa idade, a lei em questão tem seu mérito porque poderá ampliar as chances que essas crianças terão ao longo da vida.

Um ano a mais na escola.

Perguntam-se os pais: devo ou não matricular meu filho de 6 anos na 1.ª série do ensino fundamental? Será bom para ele? Estará no ponto para se iniciar na escolaridade obrigatória? Estará maduro para assumir compromissos com as formalidades do ensino fundamental? Ou será uma violência cortar sua liberdade? Como educadora, poderia afirmar que na maioria das escolas particulares a escolaridade é antecipada, percebe-se que na pré-escola esse grupo de 6 anos já iniciam sua alfabetização e com grande sucesso. O que vai se propor é um tratamento igual para as escolas públicas. Todos iniciando sua alfabetização aos 6 anos. Importante no entanto, explicitar que não se deve tratar para as escolas públicas de acréscimo de um ano letivo sem compromisso de produzir as aprendizagens que os alunos têm possibilidades de realizar, isto é, ler e escrever um texto simples, com a alegria que isso significa.

Para a educadora e pesquisadora Esther Grossi, a proposta de matricular a criança com 6 anos na escola deve estar embasada em conhecimentos abalizados na dimensão do ser gente, que nos caracteriza como seres humanos – sermos seres de cultura e não de natureza. Não nascemos com genes preparados para nos indicar com segurança os caminhos da existência, como ocorre com os animais. A uma abelha ninguém necessita ensinar como fazer o mel. Ela está capacitada para tal por sua própria natureza. Um joão-de-barro não precisa que lhe expliquem como construir sua bela morada. Sua capacidade de edificá-la está nos seus genes. Conosco é diferente. Nascemos com potencialidades imensas, mas só as desenvolvemos pela aprendizagem. Necessitamos aprender sempre. E só aprendemos, o que tem significado para nós, isto é, motivados por um desejo.

E nessa faixa de idade que a criança está sedenta de desejos e curiosidade pelo "aprender a ler". E é nesse momento que aparece a importância da escola, do professor, dos pais e da sociedade. Esse espaço escolar é um mundo social onde se vão construir conhecimentos. Nós, educadores, assustadoramente perdemos espaço para a violência, as drogas, a indisciplina, a falta de valores, a ética e, em muitos casos, para o descomprometimento familiar, que atribui à escola a responsabilidade de solucionar problemas que ela própria ou o sistema já não mais conseguem gerenciar. A família é a maior responsável pela educação dos filhos e deve ser parceira ativa na vida escolar, atuando como agente de apoio e de transformação social dentro dos espaços escolares, entendendo que a função da escola não é assumir o papel da família, mas, sim, promover o ensino que leve à produção de conhecimento.

Investir em projetos que melhorem a qualidade da educação não é uma aposta, é sempre investimento com retorno garantido.

Vamos dizer "sim" a essa questão de justiça – por que só famílias que têm mais recursos econômicos podem propiciar a seus filhos esse tempo de ingresso no ensino fundamental, condenando os demais a uma defasagem cultural?

"Pode-se aprender qualquer coisa em qualquer idade, desde que se usufrua de provocações adequadas."(Jerome Brunner).

Elinor Eschholz Ribeiro é mestre em educação e professora aposentada da UFPR. Atualmente, professora da Uniandrade.

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