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Nunca na história deste país existiu uma combinação tão perfeita de incompetência, inapetência administrativa, falta de autoridade, indisciplina e tolerância para com a ganância de alguns interesses poderosos, como a que culminou na tragédia do avião da TAM em Congonhas.

Nunca na história deste país se observou tanta complacência com a enrolação, a procrastinação e a irresponsabilidade, o que faz com que, dez meses após o desastre da Gol, ainda não se saiba exatamente por que o avião se chocou no ar com outro e quem teria cometido os erros fatais que levaram à tragédia.

Nunca na história deste país houve tanta reunião nem se gastou tanto tempo e tanta conversa fiada inutilmente para simplesmente manifestar consternação com o que ocorreu, deixando evidente a perplexidade ante o fato. Melhor seria que o público fosse informado de maneira taxativa, inequívoca e sem ambigüidades ou truques de linguagem se a pista reformada havia ou não sido liberada por organismos técnicos competentes para operação antes que estivessem completados os serviços; e por que uma obra ainda inacabada – segundo a Infraero – o concreto ainda não está curado, foi submetida à utilização intensiva em condições climáticas adversas, como foi o caso em Congonhas.

Nunca na história desse país se viu tanto desrespeito a passageiros e suas famílias como ocorreu no acidente de Congonhas em que, depois de aguardar horas pela lista oficial de passageiros que deveria ser fornecida pela TAM, as famílias souberam da morte de seus entes queridos por uma emissora de rádio.

Nunca na história deste país a população se sentiu tão desamparada face ao duopólio da TAM e da Gol, que ampliam continuamente seu poder oligopolista sob os olhares paternais das autoridades, que lhes permitem operar rotas que geram atrasos inevitáveis, utilizar seus equipamentos no limite das capacidades, tratar os passageiros como gado espremido em aviões no máximo da lotação possível ou dormindo em aeroportos sem qualquer assistência, submetidos ao descaso e grosseria de funcionários despreparados nos balcões das empresas, a overbookings e cancelamentos arbitrários, tudo para extrair o último centavo possível de faturamento e de lucro.

Nunca na história deste país assistimos a esse espetáculo constrangedor de ver a suposta autoridade reguladora, a Anac substituir sua missão disciplinadora da atividade da indústria da aeronáutica civil pela produção de desculpas esfarrapadas e frases desconectadas da realidade, que agridem a inteligência de qualquer indivíduo com um QI levemente superior ao dos legumes e dos tubérculos.

Nunca na história deste país a população ficou à mercê de algumas lideranças sindicais dos controladores de vôo e de algumas dezenas de militares amotinados que decidiram transformar a vida de todos em um inferno para fazer valer suas reivindicações salariais e profissionais. Nunca na história deste país se viu tamanha falta de critérios para a definição de prioridades de investimentos públicos em uma área tão sensível como a aviação: bilhões gastos de maneira pouco transparente nos terminais de passageiros e nas áreas comerciais dos aeroportos e migalhas nos sistemas de proteção ao vôo e segurança das aeronaves.

Nunca na história deste país se viu tantos ultimatos dados pela autoridade máxima do Estado brasileiro nem o presidente da República ser solene ou displicentemente ignorados por seus subordinados sem que nada lhes acontecesse para demonstrar que a palavra da suprema autoridade do país merece respeito e acatamento.

Nunca na história deste país se viu tanta falta de compostura por parte da algumas autoridades públicas que deveriam ter a decência de sair de cena depois de contribuírem com incompetência ou omissão para o caos que se instaurou no sistema aéreo; ou pelo menos poupar o público de ouvir asneiras e gracejos infelizes.

Nunca na história deste país foi tão necessário que nós, a população, abandonemos nossa apatia resignada e que inundemos as caixas de correio dos governantes, dos nossos supostos representantes legislativos e das empresas aéreas que têm contribuido para esse descalabro com a manifestação de nossa indignação, de nossa inconformidade e de nossa repulsa.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUC do Paraná.

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