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Salvo exceções, os vizinhos também progri­­dem e convergem para estabilidade e desen­­volvimento, com o fortalecimento das ins­­ti­­tuições e com a prevalência da democracia. E o sucesso do Brasil tem muito haver com isso

Na perspectiva de mudanças importantes que ocorrerão no Brasil dos próximos dias, mudanças marcantes pela natureza sempre renovadora do presidencialismo imperial que nos assola, ficamos curiosos e inquietos a esperar as definições de poder que se vão vislumbrando.

Em qualquer dos possíveis cenários, a presença internacional do Brasil deve adensar-se, com a manutenção das linhas gerais de política externa, e sempre com mais inserção internacional do país, lastreada em estabilidade política e em bem-estar econômico. Não deixa de ser importante a continuação da favorável circunstância do mercado e da conjuntura externa, mas que obviamente não irão dispensar atuação virtuosa da nova Presi­­dên­­cia da República, para atender desafios do Brasil que quer avançar e que quer possuir voz ativa no concerto das Nações.

Nos últimos dias, a ausência do presidente Lula na abertura da sessão da Organização das Nações Unidas, o Olimpo da cena internacional, para usar a prerrogativa que por tradição a ONU defere ao Brasil e a seu povo, sob a alegação de compromissos de campanha, merece reparos. De fato, a visibilidade do Brasil, atrelada ao inconteste prestígio internacional de seu presidente, perdeu rara oportunidade de dar ressonância ao que tem sido o esforço conciliador de sua política externa, não isenta de críticas e de frustrações. Teria sido bom para Lula ter usado o púlpito das Nações Unidas para enfatizar a opção pela solução pacífica de conflitos, ilustrada pelo sucesso de seu governo e pela perspectiva de seus planos pessoais. Dora­­van­­te, o que for bom para o futuro ex-presidente estará claramente vinculado ao que possa ser bom para o Brasil. Porém, no caso, parece não ter sido possível refrear o ímpeto passional da corrida eleitoral, sempre a compor a personalidade múltipla dos homens públicos. Resta patente, no entanto, que campanhas estaduais e seus dilemas paroquiais não devem exaurir a agenda presidencial, longe que estão de serem demandas de Estado, como teria sido sua esperada presença e fala na ONU.

Aos viajantes da América Latina, tem surpreendido a excelência das novas instalações do Aeroporto de Lima, onde tudo funciona com qualidade e eficiência, como se ali não fosse nosso sofrido subcontinente. Salvo exceções, os vizinhos também progridem e convergem para estabilidade e desenvolvimento, com o fortalecimento das instituições e com a prevalência da democracia. E o sucesso do Brasil tem muito a ver com isso. Agora, a transição do Palácio do Planalto tem sido acompanhada com inédito interesse, na dependência da economia brasileira, que alavanca e projeta também os países sul-americanos.

Embora não deixemos de dar constantes boas notícias ao mundo, como respaldo aos bons prognósticos que se lançam acerca do futuro do Brasil, há opiniões que duvidam da continuidade dos avanços nacionais, e que denunciam o triunfalismo exagerado em face dos fundamentos relativos de nosso progresso. Nesse sentido, Andrés Oppenheimer, colunista do Miami Herald, ex-prêmio Pulitzer, tem sido porta-voz de certo setor incomodado com o Brasil incensado da grande mídia mundial. O próprio jornal Miami Herald promoveu recente seminário, onde falaram os brazilianists de sempre, inclusive nosso conhecido Larry Rother, de The New York Times, que acaba de publicar Brazil on the Rise. Decididamente, Oppenheimer parece não transitar com gosto na ideia da América Latina que vai se desgarrando, independente e refratária aos devaneios de profetas e ditadores. Porém, de seus artigos, depurado o simplismo de afirmações ingênuas, como quando pretende comparar o Brasil à Índia ou à China, é sempre possível extrair ensinamentos. Em seu recente artigo, Brasil needs dose of constructive paranoia, por exemplo, ao alardear a deficiente infraestrutura do país e a baixa instrução de sua população, denuncia o imobilismo e a lentidão das reformas necessárias, como se o governo se acomodasse na convicção messiânica de que tudo, de uma forma ou de outra, sempre acabará por arrumar-se. Assim como os peruanos conseguiram construir o melhor aeroporto do mundo, sem paranoia, o Brasil haverá de edificar a base física e humana de que carece. Com poucas exceções, o mundo torce por nós.

Jorge Fontoura, doutor em direito internacional, é professor-titular do Instituto Rio Branco e membro consultor do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

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