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Até fevereiro de 2007, no horóscopo chinês, vivemos o Ano do Cachorro. Adoráveis esses animaizinhos, alegres, fiéis, mas se a gente deixá-los soltos e sem orientação fazem uma bagunça daquelas na casa. Deitam no sofá, comem o que não devem, largam suas travessuras em qualquer lugar e depois nos olham felizes como quem não fez nada. Só pode ter sido inspirados apenas na capacidade canina de fazer lambança (deixaram de lado a fidelidade que marca a espécie, por exemplo) que os parlamentares brasileiros pautaram essa legislatura.

Como cães correndo atrás do próprio rabo, muitos parlamentares focaram sua atuação neles mesmos e esqueceram o que realmente importa: o interesse do povo. E depois enviam cartões de boas-festas ignorando que por pouco eles não estragam a nossa. Quase terminaram o ano praticamente dobrando os próprios salários, cujo insucesso foi brilhantemente lamentado pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B) – aliás, que comunista mais dinheirista, este –, ao dizer que imaginava que pelo menos Deus ficasse de seu lado. Mas dessa vez o Cara lá em cima se provou brasileiro, não deu base de apoio a quem não deve e aliou-se ao povo que por sua vez não se mostrou bobo e reagiu ao escândalo. Parecia que seria essa a última lambança, quando, na quinta-feira, 21, em pleno caos aéreo, surge uma nova e inacreditável proposta apresentada pelo presidente da Comissão Mista de Orçamento, Gilmar Machado (PT-MG): colocar à disposição de parlamentares aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para que pudessem retornar aos seus estados depois da votação e assim passarem incólumes pelo apagão aéreo.

Aviltante quase quanto o aumento dos salários, a idéia do deputado petista confirma o distanciamento da política da moral, à qual o exercício de suas eletivas funções deveria estar subordinado. Por que o ilustre se supõe no direito de usar um avião da FAB, enquanto centenas de brasileiros se descabelam nas salas de embarque para passar as festas com a família? A grande maioria, às próprias expensas, enquanto os deputados têm as passagens pagas pelo erário. Em que esse deputado tem mais direitos que o médico curitibano Luiz Gustavo Borges, a esposa, Lorenza, e dois filhos, uma menina de 1 ano e 6 meses e um garoto de 10? De tanto esperar no Afonso Pena, acabaram desistindo passar o Natal com os familiares em Belo Horizonte.

É injustificável tanto esforço em causa própria. Esses parlamentares precisam lembrar-se de que não foram eleitos para terem poder, mordomias e sucesso financeiro. Por isso também é significativo que eles não tenham aprovado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 349/01, que institui o voto aberto em todas as deliberações do Congresso. Dar a conhecer obrigatoriamente o teor de todas as votações dos parlamentares levaria ao âmbito jurídico um princípio que já é do campo da ética, ou seja, obrigaria deputados e senadores, pelo menos nas votações, a agir eticamente. Ora, se um político não pode divulgar seu voto é porque ele, de alguma forma, vai de encontro às razões para as quais foi eleito. E essa foi a opção de nossos parlamentares, deixar secreto o que é indefensável.

Quer saber o pior? No horóscopo chinês, 2007 é o Ano do Porco! Pela tradição oriental, esse é o signo da educação e da nobreza. Mas esses parlamentares não entendem nada mesmo de horóscopo chinês. O Ano do Cachorro, na tradição chinesa, deveria ter sido correção moral e credibilidade. Foi o da cachorrada.

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