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Se um habitante de Marte tivessse vindo à Terra ali por 1950 e feito uma previsão para os 60 anos seguintes, ele teria afirmado que Brasil e Argentina rumavam para o desenvolvimento e elevado padrão de vida, enquanto Japão e Coreia do Sul seguiam para a pobreza e o atraso.

Chamado a justificar suas previsões, ele teria dito que o Brasil tinha tudo para se desenvolver: território grande, terras férteis, muita água, clima favorável, ausência de inimigos e houvera escapado da nefasta onda comunista que acometeu a Europa. A riqueza brasileira seria só questão de tempo. Sobre a Argentina, o marciano teria dito que o país já era desenvolvido, a renda per capita era maior que a dos Estados Unidos, o país fora um dos primeiros a resolver o problema da educação, o território era grande e as terras, férteis.

Em relação ao Japão, era um país sem cultura capitalista, abatido pela derrota na guerra, com território pobre, produtos industriais vistos como piada pelo mundo e desenvolvimento tecnológico lento; tinha poucas chances. Sobre a Coreia do Sul, o marciano teria observado que o país era atrasado, com nível educacional sofrível e pobreza grande; não tinha chances espetaculares.

Passadas seis décadas, o marciano retorna e não entende nada. A Argentina, que chegara à riqueza, conseguiu caminhar a passos largos rumo à pobreza e ao atraso. O Brasil não piorou, mas decepcionou, pois continua pobre, com educação precária e carências sociais, tudo ao contrário do previsto. O Japão surpreendeu: desenvolveu-se bastante, eliminou a pobreza, superou o analfabetismo, tornou-se grande exportador e saiu-se bem melhor que a previsão.

A surpresa vem da Coreia do Sul. O país conseguiu níveis educacionais elevados, tornou-se grande exportador, é forte produtor de tecnologia, erradicou a pobreza e tem elevados índices de bem-estar social. O marciano, desapontado, pergunta: o que houve? O que fizeram Japão e Coreia de correto e Brasil e Argentina de errado?

Japão e Coreia se aproximaram do sistema que estava dando certo, o capitalismo, enquanto Brasil e Argentina incorporaram muito do sistema que estava morrendo, o comunismo. O caso da Argentina é mais grave: seis décadas de maus governos, estatismo exagerado, nacionalismo exacerbado, hostilidade ao capitalismo interno, governos intervencionistas e antiempresariais, desorganização das contas públicas, déficits fiscais crônicos, inchaço do governo... Com um currículo desse, a pobreza é o resultado lógico.

O Brasil teve vários dos males argentinos, com uma diferença: desde o governo Collor, o país tomou outro rumo e até o PT cedeu à cartilha capitalista e liberal, mesmo com um discurso em sentido oposto. Exemplo disso é a insistência do governo em dizer que o PT faz concessões, enquanto o PSDB fazia privatizações. Ora, ambos buscam duas coisas: atrair o empresário nacional e o estrangeiro para projetos de infraestrutura física e aceitar capitais financeiros privados em setores antes considerados exclusivamente estatais.

A Coreia do Sul seguiu a cartilha capitalista: investiu em educação de base, abriu-se para o exterior, incorporou tecnologia estrangeira, criou uma legislação de respeito à propriedade privada, estimulou o setor privado nacional e estrangeiro e fugiu dos dogmas comunistas que, embora nunca tenham dado certo, contam com o maior número de adeptos justamente na América Latina – que, não por acaso, continua pobre, mesmo sentada em cima de imensas riquezas naturais.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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