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| Foto: Robson Vilalba/Thapcom

O século 20 foi a era da indústria automobilística. A morfologia das cidades e o planejamento urbano, os hábitos de consumo e os centros comerciais, a arquitetura dos edifícios, a mobilidade e o ritmo cotidiano são derivados da difusão do automóvel em nossa sociedade.

Há 30 anos, a forma de produzir veículos foi alterada com a difusão de novas tecnologias de lean production da Terceira Revolução Industrial. Nessa época, o Brasil soube promover o Regime Automotivo (MP 1.024/1995 e Lei 9.440/1997), favorecendo a reestruturação produtiva, com novos players e unidades produtivas, inserção internacional e implantação de novos polos automotivos.

Apesar de não haver grandes marcas e montadoras nacionais, o Brasil, segundo a Organização Internacional de Construtores de Automóveis (Oica), é o oitavo produtor mundial de automóveis, beneficiado pela dimensão do mercado interno e presença regional. Em número de unidades produtivas, o país está na quinta posição mundial.

Em menos de uma geração o setor será profundamente remodelado

Agora, na Revolução 4.0, a indústria e o automóvel estão em uma encruzilhada. Em menos de uma geração o setor será profundamente remodelado, com reflexos tanto sobre a cadeia produtiva quanto sobre a de consumo – os provedores de serviços de manutenção, energia, autoescolas, seguradoras, transporte coletivo etc.

Mudará a forma de trafegar e viajar, de passar o tempo no trânsito, de propriedade do automóvel. Pode-se prever que os efeitos sejam semelhantes ao que os smartphones geraram sobre a indústria de comunicações, mídias, serviços financeiros, relações sociais e movimentos políticos.

Nessa perspectiva é que o programa de incentivo à inovação na mobilidade e logística, o Rota 2030 (Lei Federal 13.755/2018), deve ser percebido e orientado. São os momentos críticos que abrem janelas ou fecham oportunidades.

Ao oferecer incentivos fiscais (CSLL e IRPJ) para deduzir valores de investimentos das empresas em pesquisa, desenvolvimento e inovação, produção de novos modelos com maior eficiência energética, segurança e direção assistida, instalação de novas fábricas com ganhos de produtividade, capacitação técnica de fornecedores e trabalhadores, parcerias com instituições de ensino e pesquisa nacionais, o programa vai nessa direção. Não é mero incentivo de competitividades espúrias para favorecer a aquisição de um bem perdulário e poluente, beneficiar a cadeia de negócios automotivos ou dificultar ainda mais o trânsito: o Rota 2030 está alinhado com os instrumentos de política comercial estratégica adotados em diversos países do mundo, sejam mais liberais, como na Europa e nos Estados Unidos, ou mais intervencionistas, como China e Coreia do Sul.

Interesse das montadoras: Uma rota em qual direção? (artigo de Alysson Nunes Diógenes, doutor em Engenharia Mecânica e professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo)

Mais que intervenção ou desperdício de recursos públicos, o programa é essencial para a viabilidade econômica de novos projetos: o Rota 2030 abre caminho para que o Brasil continue participando como agente provedor de novos produtos e soluções automotivas.

Sem um programa alinhado e uma política estratégica, estaremos caminhando a passos largos para a “doença holandesa” – exportações de commodities primárias e importações de bens e serviços intensivos em conhecimento e alta tecnologia, condenando nossa economia à reprimarização e desindustrialização precoce.

Wilhelm Milward Meiners é professor de Economia da PUCPR e pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles – Núcleo Curitiba.
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