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Os irmãos Castro (Fidel e Raúl), experimentados e sofridos, sabem sobre o que estão falando quando classificam Obama como "um bom homem" e " homem sincero".

"Chega de palavras, queremos ações", a turma dos apressadinhos vestiu as togas e já queria julgar Barack Obama na quarta-feira, antes mesmo de vê-lo sentado no Salão Oval da Casa Branca. Um bom suco de maracujá costuma resolver este tipo de ansiedade, mas se persistirem os sintomas recomenda-se um programa de exercícios de última geração: ginástica comparativa.

Aprender a distinguir é a melhor terapia para diminuir o estresse imposto pelas altas velocidades e baixas percepções. Identificar diferenças faz um bem danado – às almas e à pressão arterial.

Há oito anos, quando George W.Bush disputava a presidência com Al Gore, a mesma turma resmungava "o Império não se corrige, tudo farinha do mesmo saco". Não era, as diferenças são colossais, não interessava examiná-las. Esta atitude obsessiva e ressentida (ou ideológica, dá no mesmo) tem sido responsável pela liquidação prematura de avanços e oportunidades em todas as esferas e quadrantes desde o fim da Guerra Fria.

Grandes transformações começam pequenas, os irmãos Castro (Fidel e Raúl), experimentados e sofridos, sabem sobre o que estão falando quando classificam Obama como "um bom homem" e " homem sincero". Não é condescendência, o novo presidente americano nada fez ou disse no tocante à América Latina mas está evidente que o fará, da mesma forma objetiva, consistente, que vem adotando desde o momento em que se lançou candidato.

Pragmatismo e idealismo não são antagônicos. O Diferencial Obama já pode ser entrevisto nestes poucos dias – horas, na verdade – em que comanda o seu país. A concepção binária do Rei-Filósofo é perseguida desde Platão e em algumas circunstâncias históricas – durante o Iluminismo, por exemplo – conseguiu materializar-se. Nesta era do conhecimento é mais fácil conciliar a capacidade operativa com a densidade reflexiva. As ferramentas estão disponíveis.

Esta combinação do real com o ideal não dispensa os recursos retóricos e simbólicos. Obrigatória é a convicção, a capacidade de acompanhar cada gesto, por mais insignificante que seja, com um contrapeso moral. Quando Fidel Castro qualifica Obama como sincero oferece-lhe um galardão subjetivo incomparável. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, gosta de surpreender, é um craque nesta matéria, tem gás e imaginação para produzir soluções inesperadas. Dificilmente poderia enquadrar-se como o caso do homem sincero.

O pragmatismo idealista de Obama – ou seu idealismo pragmático – vai produzir objeções, críticas – inevitável. Deverão limitar-se, porém, ao plano incidental porque percebe-se nitidamente um pensamento costurando ações e opções. Inevitável também uma emulação: cada líder mundial se sentirá desafiado a fabricar soluções inesperadas, amparadas por esdrúxulas reflexões.

A primeira foi divulgada nesta sexta-feira por Muhamar Khadafi ("O Estado de S.Paulo", 23/1, p.A-16). O megalômano tirano líbio já pretendeu comandar o terrorismo internacional, desistiu, já esteve engajado na destruição do estado de Israel e agora tenta roubar a cena tirando da cartola mágica um estado bi-nacional, israelo-palestino. O coronel deu um passo à frente, é bem-vindo ao clube dos solucionadores, mas falta-lhe credibilidade e, sobretudo, conhecimento. A sua fórmula era defendida antes de 1948 pela extrema esquerda sionista e judaica e foi superada quando a partilha da Palestina em dois estados sequer foi cogitada pelas lideranças árabes.

A importância do binômio Obama é a sua visibilidade, sua capacidade de se autoexplicar, seu efeito contrastante. Força comparações. É intrinsecamente antibrega, antimalandro, anticaudilhesco. Contemporâneo, virtuoso e, principalmente sofisticado. Bush encarna a idéia do dogmatismo e do retrocesso sob o ponto de vista intelectual, ambiental, econômico, religioso e até tecnológico (em matéria de informática a Casa Branca estava atrasada cinco anos).

Pragmatismo e idealismo compõem um mix acessível, quase gratuito. Basta ler jornais. E para quem não gosta de ler jornais, recomenda-se um smart-phone – Blackberry é a marca preferida por Obama, há outras no mercado.

Comportam-se com mais probidade intelectual do que aqueles que já começaram a coaxar contra "o Império".

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