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O fechamento dos cursos técnicos ofertados pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), antigo Cefet, e a redução expressiva nas vagas oferecidas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) mostraram como a capacitação técnica passa por dificuldades no Brasil.

Em países desenvolvidos, a média de jovens que procura o ensino técnico é de 35%, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Um exemplo de país que trabalha com grandes investimentos na área técnica é a Alemanha, potência europeia que oferece desde o 4.º ano escolar a possibilidade de o estudante se qualificar nos cursos focados para a indústria.

É na indústria que se agrega valor ao produto e pode-se facilmente multiplicar o ganho obtido

No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2014 mostrou que o número de jovens cursando ensino técnico é de apenas 6%, somando aqueles que fazem o ensino médio integrado ao técnico com aqueles que cursam penas o ensino profissional. Porém, após o sucesso do Pronatec e a quantidade estrondosa de cursos e vagas oferecidos, as instituições públicas e privadas que trabalham nessa área tiveram um breve momento de valorização e alta procura.

Sem dúvida, o Pronatec teve um início glorioso e tinha todas as condições de fortalecer uma política de incentivo à educação profissionalizante que o mesmo governo havia iniciado em 2002. Porém, a falta de planejamento buscando um desenvolvimento gradual e sustentável, aliada ao desespero eleitoral, fez com que o programa tomasse proporções gigantescas e perdesse a direção. Além de credenciar muitas instituições despreparadas e encher o mercado com uma enxurrada de profissionais, nem sempre bem capacitados, o Pronatec criou a expectativa na população de que o ensino seria gratuito para sempre e, por consequência, desvalorizou a iniciativa.

Os resultados negativos vieram já no ano passado. Em 2014, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), foram 3 milhões de vagas oferecidas em todo o país e que fizeram com que os cursos técnicos ganhassem notoriedade no mercado. Porém, em 2015, o número caiu mais de 50%: apenas 1,3 milhão de vagas.

Olhando do ponto de vista estadual, o impacto é ainda mais expressivo. No Paraná, em 2015 foram ofertadas mais de 17 mil vagas, enquanto em 2014 foram apenas 4.640. E Curitiba, cidade com mais de 4 mil vagas em 2014, contou com apenas três instituições credenciadas para 430 vagas disponíveis em 2015.

Neste segundo semestre está prevista uma retomada tímida da economia e da indústria do país – decorrente, principalmente, do otimismo provocado pelas mudanças políticas. Quando o ciclo econômico mostrar crescimento mais expressivo, previsto para acontecer no próximo ano, iremos nos deparar novamente com a escassez de mão de obra qualificada.

Por isso, o Brasil é ainda um país puramente agrícola e com grande atraso industrial provocado pelo comércio restrito de commodities, pois é na indústria que se agrega valor ao produto e pode-se facilmente multiplicar o ganho obtido. Exemplo disso é uma comparação de um produto comercializado pelo Brasil desde a era colonial, o café cru. Exportadores brasileiros ganham em média US$ 200 em uma saca de 60 kg de café arábica. Enquanto justamente a Alemanha faz, com uma saca de US$ 200, 50 pacotes de um quilo e os vende a US$ 15, faturando US$ 750.

Carlos Eduardo da Costa é coordenador do curso técnico em Logística e Comércio Exterior do TecPUC.
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