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O Brasil deve perseguir a universalização do tratamento de água e esgoto
| Foto: Hugo Harada/Arquivo/Gazeta do Povo

Diarreias, doenças infecciosas intestinais, esquistossomose, leptospirose, amebíase, febre tifoide e malária. Todos os anos, as chamadas “doenças de veiculação hídrica” ainda causam milhares de internações hospitalares no Brasil. Foram 167 mil em 2020, com mais de 1,8 mil óbitos, de acordo com o Instituto Trata Brasil. As doenças hídricas atingem as crianças em especial. Elas representam 30% do total de internações. A água, que deveria ser um aliado da saúde, acaba funcionando, neste caso, como vilão. As doenças hídricas estão diretamente relacionadas à falta de redes adequadas de água e esgoto. O investimento (ou a falta dele) em saneamento tem um cruel resultado lá na ponta, quando profissionais de doenças atendem crianças vítimas de doenças que seriam facilmente prevenidas.

Os óbvios prejuízos à saúde, neste caso, vêm junto do prejuízo econômico e social. O país gasta com as internações, perde dias de trabalho e vê o desempenho escolar das crianças despencar. A situação é mais grave no Norte e Nordeste, mas também atinge municípios do Sul. As cidades gaúchas de Canoas e Gravataí estão entre as 20 piores no ranking do saneamento do Trata Brasil, divulgada no dia 22 de março, o Dia Mundial da Água. O Paraná, felizmente, aparece com resultados positivos. O estado tem seis cidades entre as 20 melhores do Brasil no tratamento de água e esgoto: São José dos Pinhais (3.ª colocação), Cascavel (8.ª), Maringá (10.ª), Ponta Grossa (11.ª), Curitiba (12.ª) e Londrina (18.ª). O índice de atendimento urbano com redes de esgoto também é alto no Paraná. Chega a 84,5%, atrás apenas de São Paulo e do Distrito Federal, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Saneamento.

Os avanços do Paraná devem continuar. O estado e o país deveriam fixar uma meta realista, mas próxima, para buscar a universalização do tratamento de água e esgoto. Os impactos econômicos, políticos e sociais da medida seriam evidentes. Para isso, é preciso que gestores municipais, estaduais e federais coloquem o saneamento como uma prioridade. A participação do investimento privado também é importante e deve ser facilitada, como determinada o Marco Legal do Saneamento.

Não se pode pensar um Brasil para o futuro sem água tratada, com cidades e bairros onde esgotos correm a céu aberto. O acesso ao saneamento é uma daquelas variáveis fundamentais que diferem países com os mais altos dos mais baixos índices de desenvolvimento humano.  O Brasil precisa decidir onde quer estar.

Janaína Naumann, biomédica e mestre em Tecnologia de Saúde, é conselheira titular do Conselho Federal de Biomedicina e Presidente da Associação Paranaense de Biomedicina (APRBM).

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