• Carregando...

"O Brasil não é para principiantes", dizia Tom Jobim. Os correspondentes internacionais que cobriram a Copa do Mundo de futebol e a eleição presidencial tiveram essa experiência em primeira mão durante o segundo semestre. O resultado foi uma nova compreensão em torno do país, afastando estereótipos e contribuindo para reforçar a imagem de que, apesar dos seus muitos problemas, o Brasil é um player global e amplia a cada dia seu soft power. Oitava maior economia do mundo, entramos para o rol dos países de fato relevantes.

A última edição do estudo "I See Brazil", produzido trimestralmente pela Imagem Corporativa e que acompanha a evolução da imagem do Brasil no exterior, mostra uma avaliação predominantemente positiva entre os meses de julho e setembro. Essa visão transpareceu tanto nas reportagens do período em importantes veículos da imprensa internacional (como The New York Times, Financial Times, Le Monde e El País, entre outros) quanto na opinião de acadêmicos que estudam a América Latina e o Brasil em outros países. O índice do "I See Brazil" atingiu a nota 5 (em uma escala de zero a dez) – no trimestre anterior, era de apenas 3,63. Por que houve mudança?

A primeira razão foi a constatação de que, afinal de contas, nenhum problema sério surgiu durante a Copa do Mundo, contrariando sombrias previsões. Nos meses anteriores ao campeonato, havia o temor de que o Brasil não conseguisse concluir as obras nos estádios, e que gargalos de infraestrutura prejudicassem a movimentação dos torcedores estrangeiros, além de explorar o tema da violência urbana. Esse cenário não se concretizou – e a hospitalidade do brasileiro contribuiu para fortalecer a imagem do Brasil no resto do mundo.

Também colaborou para essa visão positiva a realização, em julho, da reunião de cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Fortaleza. Chamou a atenção o fato de a reunião ter apresentado propostas para alterar a estrutura de financiamento internacional. Ainda que alguns analistas fossem céticos com relação às iniciativas, o encontro contribuiu positivamente para a imagem do país.

Essa visão também permeou a cobertura em torno da eleição para a Presidência da República – em uma campanha que se mostrou atípica desde o início. Da morte de Eduardo Campos (PSB) em agosto até o confronto final entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), os altos e baixos do processo eleitoral foram acompanhados de perto pelos correspondentes internacionais. E chamou a atenção a maturidade democrática do Brasil – que, apesar de uma campanha repleta de acusações entre os candidatos, escolheu pacificamente seus representantes no Executivo e no Legislativo.

Naturalmente, nem tudo foi positivo. A atenção maior dada ao Brasil no exterior também colocou em evidência os problemas do país – como a deterioração da economia, o aumento do desmatamento da Amazônia e a violência nas grandes cidades. E estamos em um momento bastante distinto daquele de seis anos atrás, quando a revista The Economist publicou sua emblemática capa com o Cristo Redentor decolando. Na época, o Brasil parecia a "bola da vez". Hoje, fragilidades econômicas não permitem mais tanto otimismo. Mas não somos mais vistos exclusivamente como o país do futebol e do carnaval. E isso é bom. Assim como é bom sabermos que o Brasil hoje faz mais diferença no ambiente global do que jamais fez no passado.

Ciro Dias Reis é presidente da agência de comunicação Imagem Corporativa, diretor da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) e vice-presidente da organização internacional PROI Worldwide.

Dê sua opinião

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]