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Com o início da COP21 nesta semana, em Paris, não há dúvidas de que o tema das mudanças climáticas eleva-se ao status de preocupação internacional. Há motivos para isso? Infelizmente, sim. A mudança global do clima é um dos maiores – se não o maior – desafios do século para a humanidade, e também é para o país que abriga a maior biodiversidade do planeta, o Brasil. Apesar de toda a discussão sobre o tema, e de todos os esforços de redução de emissões empreendidos por governos, empresas e cidadãos do mundo todo, a concentração de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera só tem aumentado.

A tão proclamada “crise hídrica brasileira”, se assim pudermos chamá-la (posto que não é passageira, nem apareceu de surpresa), é reflexo desse cenário. E não é apenas o Sudeste do Brasil que está sofrendo com a estiagem e onda de calor em 2015: o mesmo tem sido registrado em todos os continentes, provocando inclusive centenas de mortes na Índia e no Paquistão.

Mitigação (reduzir a intensidade) costuma ser o centro das atenções quando se fala em mudança climática, mas adaptação tende a ser um assunto cada vez mais relevante a partir de agora, pois as alterações do clima já estão em curso e seus efeitos já são sentidos.

A mudança global do clima é um dos maiores – se não o maior – desafios do século para a humanidade

Essa adaptação visa a minimizar os prejuízos ou potencializar benefícios. Ecossistemas naturais nativos que estejam em equilíbrio aumentam o potencial de adaptação aos novos cenários que se apresentam e fornecem uma gama maior de benefícios dos quais as pessoas dependem – tais como regulação do clima, purificação do ar e produção de água. Essa adaptação baseada nos ecossistemas aumenta a capacidade que as comunidades têm para se proteger de efeitos das mudanças climáticas ou para se adaptar a eles, quando os efeitos já estão em curso.

A gestão da biodiversidade e dos serviços ambientais como parte de uma estratégia completa para ajudar pessoas a se preparar para os efeitos adversos das mudanças climáticas é o que se chama de “adaptação baseada em ecossistemas” (AbE). Muitas vezes, a utilização disso que chamamos “infraestrutura verde” é bem mais eficiente em termos de custos e de tempo necessário à aplicação que o das grandes obras de engenharia, as quais poderíamos chamar de “infraestrutura cinza”.

Com o objetivo de planejar as ações públicas sobre mudanças climáticas para os próximos anos, o governo federal lançou o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), que engloba diversas áreas temáticas, com projeções do governo para medidas de adaptação relacionadas à agricultura, à eficiência hídrica, à energia, ao transporte, à logística e à saúde pública. O PNA será, portanto, um grande direcionador para políticas públicas subnacionais, nos estados e municípios. É estratégico que o tema da adaptação baseada em ecossistemas esteja presente no plano, assim como é inteligente e estratégica sua aplicação.

O PNA é um instrumento indispensável para ajudar o Brasil a superar sua maior crise: maior porque concentra todas as outras que, de certo modo, hoje assolam o país. A crise do clima é democrática, afeta a todos – ricos ou pobres – e traz em si fatores agravantes de todas as outras crises, incluindo a crise econômica e social sentida atualmente. Quer estejamos preparados ou não, ela se intensificará nos próximos anos e nos dará a consequência exata de nossa escolha: se tivemos capacidade de nos unir social e politicamente para nos adaptarmos, ou se ficamos indiferentes à espera do resultado de nossa inércia frente à maior ameaça à vida que já assolou a humanidade.

André Ferretti é gerente de Estratégias da Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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