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O "Nobel de Economia" foi criado pelo Banco Central da Suécia em 1969. Oferece um milhão de dólares e se confunde com o verdadeiro prêmio Nobel

Em todos os anos é aguardada com uma certa ansiedade a entrega do prêmio Nobel para personalidades que se destacam nas várias áreas da pesquisa ou da luta pela paz no mundo. A premiação foi instituída pela Fundação Nobel em 1901.

Inventor sueco, Alfred Bernhard Nobel (1833-1896) foi o criador da dinamite. Só admitia o uso de explosivos para fins pacíficos. Seu emprego para ações militares o frustrou profundamente. Ao morrer, deixou parte de sua fortuna para a organização de uma fundação que organizaria a distribuição de prêmios. Sabe-se também, através de suas correspondências, que Alfred Nobel nunca fez menção a um prêmio para a economia. Em artigo intitulado "A impostura do Nobel de Economia", publicado em fevereiro de 2005 pela edição brasileira do "Le Monde Diplomatique", Hazel Hendeson informa que o ambiente seleto da entrega dos prêmios Nobel foi abalado no final de 2004 pela voz de Peter Nobel, um dos herdeiros de Alfred Nobel. Peter veio somar sua voz à de diversos outros cientistas que protestavam contra a confusão que envolve o prêmio do Banco da Suécia para as ciências econômicas. Informa o texto que o alcunhado "prêmio Nobel de Economia" foi criado pelo Banco Central da Suécia em 1969. Oferece um milhão de dólares e se confunde com o verdadeiro prêmio Nobel.

Nós, que somos do interior, desde crianças aprendemos que o pássaro chupim põe os seus ovos nos ninhos do tico-tico, que, inadvertidamente, acaba por chocá-los e criar os seus filhotes. Segundo Peter Nobel, o banco sueco "colocou seu ovo no ninho de outro passarinho, muito respeitável, e transgrediu 'a marca registrada' Nobel".

O "prêmio Nobel de Economia" também vem sendo questionado porque alguns dos economistas contemplados foram responsáveis pela criação de modelos socialmente excludentes. Dois terços dos prêmios distribuídos pelo Banco da Suécia são para tais economistas, em geral norte-americanos da Escola de Chicago, "cujos modelos matemáticos servem para especular nos mercados de ações e de opções, em oposição às intenções de Alfred Nobel, que pretendia melhorar as condições humanas", conforme afirma Peter Nobel. A gota d'água para o protesto foi o "Nobel de Economia" de 2004, que premiou dois americanos, E. Kydland e Edward C. Prescott. Em 1977, ambos demonstraram que os bancos centrais deveriam ser independentes das pressões políticas. A independência do Banco Central, como muitos defendem no Brasil – inclusive dentro do próprio governo –, é um problema para a democracia, que exige transparência das decisões públicas. É através da política monetária que se determina a distribuição da renda e riqueza, bem como a capacidade de crescimento e desenvolvimento de um país para a geração de empregos.

Para acabar com o uso indevido do nome Nobel, um grupo de cientistas de diversas áreas (física, química, matemática, ecologia, ciências, etc.) quer que o prêmio do Banco da Suécia seja corretamente identificado, e que não tenha nenhuma ligação com o prêmio Nobel. Ou que seja simplesmente abolido.

Afirmam também que é necessário definir se a economia é uma ciência ou uma profissão – um debate antigo. A maioria dos seus princípios não são testáveis, como são as leis da física. Para alguns, a economia seria uma verdadeira profissão de fé, por imaginar que ela é capaz de resolver tudo.

À parte desta polêmica, o texto de Hendeson é importante porque traz à tona a confusão gerada pelo "Nobel de Economia" – um prêmio que está para o Nobel assim como o chupim está para o tico-tico.

Dr. Rosinha é médico pediatra e sanitarista, deputado federal (PT-PR) e secretário-geral da Comissão do Mercosul.

dr.rosinha@terra.com.brwww.drrosinha.com.br

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