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Não podemos simplesmente nos entu­­­siasmar com o crescimento econômico, mas devemos construir bases sólidas para manter a estabilidade conquistada

É fato que a economia brasileira vem passando por um período muito interessante nos anos de 2003 a 2011, com destaque para o subperíodo 2003-2008 (a taxa média de crescimento do PIB real foi de 4,2% ao ano) e o ano de 2010 (marcado por um crescimento econômico da ordem de 7,5%). Algumas conquistas desse período são notáveis, a taxa de crescimento econômico ilustrada pelo crescimento do PIB real, o baixo índice de inflação, o acesso da população ao crédito para o consumo e compra de casa própria; a evolução do salário mínimo real, a conquista do grau de investimento (investment grade); o lançamento do fundo soberano brasileiro e o clima de entusiasmo geral. Além disso, em uma perspectiva política, considerando-se um período um pouco mais longo de 1994 a 2011, a consolidação da democracia representativa, algo muito importante na história política do Brasil republicano, marcada por rupturas, instabilidade e uma sequência de Constituições.

Em um ambiente de crescimento econômico a taxas razoáveis e de estabilidade monetária, observou-se um novo deslocamento no posicionamento das chamadas classes A, B, C, D e E. Em alguns casos, nota-se o crescimento dos chamados milionários, isto é, pessoas com um patrimônio declarado de mais de R$ 1 milhão. Esse assunto foi objeto de matéria recente nos jornais brasileiros e na revista Forbes. Pessoas que atingiram essa posição privilegiada são encontradas tanto em segmentos assalariados (pessoas que normalmente recebem elevados salários e bonificação) quanto entre pequenos empresários e alguns profissionais liberais.

Em que pese a presença dos indicadores positivos mencionados, além do surgimento de novos milionários, devemos ponderar que existe uma gigantesca agenda de desafios para o Brasil nos próximos anos que não deve ser esquecida e muito menos negligenciada.

A lista é grande e aqui vão alguns itens: uma revisão da política cambial brasileira que evite a sobrevalorização do real, a consolidação de uma política industrial para o país, os desafios do segmento de infraestrutura no sentido de se eliminarem os apagões em vários níveis, de modo independente da realização dos grandes eventos esportivos da Copa do Mundo e da Olimpíada; o desafio de uma política educacional que amplie os anos médios de estudo da população brasileira (indicador relevante na composição do Índice de Desenvolvimento Humano), introdução de políticas sociais mais abrangentes e estáveis, a busca de políticas de desenvolvimento que atenuem as disparidades regionais e as disparidades relacionadas com a distribuição de renda, dentre outras.

Outro item dessa mencionada agenda diz respeito à melhora da capacidade de resposta do setor público para as novas demandas oriundas desse período recente da economia brasileira. É o caso de se analisar como o setor público vai cuidar do enorme número de veículos que são produzidos e passam a rodar em ruas e rodovias que foram construídas para outro volume bem menor de tráfego e estão subdimensionadas e, finalmente, como o governo federal e os governos estaduais abordarão o tema do impacto ambiental trazido pelo aumento do volume de produção e consumo, assunto que já tem peso muito grande na agenda de governos de países europeus, por exemplo.

Por fim, não podemos simplesmente nos entusiasmar com o crescimento econômico, mas devemos construir bases sólidas para manter a estabilidade conquistada e saber agir em um momento em que a economia mundial sofre uma nova desaceleração, dessa vez com reflexos mais fortes sobre o Brasil.

Flávio Saraiva, economista, é professor das Faculdades Integradas Rio Branco, da PUCSP e da Universidade Cruzeiro do Sul.

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