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Antes dos anos 60, o papel psicológico do pai na família era praticamente invisível. Muitos cientistas assumiram que o pai não era importante para o desenvolvimento saudável dos filhos e, no máximo, achavam que tinha um papel secundário. Alguns até diziam que o pai não tinha aptidão para cuidar de crianças, enquanto que a mãe era geneticamente capacitada para tal tarefa. Enfatizava-se que a mãe era necessária e suficiente para a criação de um filho e neste papel recebia toda a glória e toda a culpa. Ser mãe significava "padecer no paraíso" porque incluía uma infinidade de outros papéis, como esposa, cozinheira, babá, enfermeira, amante, entre outros. Ser pai, bem, ser pai era apenas ter um filho.

No entanto, era preciso entender melhor essa não-existência da função paterna e, a partir das décadas de 60 e 70, os estudiosos do comportamento passaram a incluir, timidamente, o pai em suas pesquisas. Descobriram, surpresos, que o envolvimento paterno era determinante de uma série de desempenhos comportamentais dos filhos, independentemente do envolvimento materno segundo sofisticados dados estatísticos em estudos longitudinais. A disseminação de tais pesquisas contribuiu para deixar os pais – e as mães – mais atentos. Os tempos e as sociedades foram mudando lenta e sistematicamente até que se chegou ao século XXI em que o papel do pai deixou de ser mero caçador e protetor. Através dos tempos e por diferentes meios (por escolha, por decisão judicial ou por contingências), a figura do pai vem se transformando em um pai real, um companheiro de jornada que tem compromisso em educar seus filhos. Muitos já trocam fraldas – quando antes, somente seguravam a sacola ao entrar junto com a esposa no consultório do pediatra –, preparam mamadeiras, conhecem o nome das amiguinhas da filha, dão banho, ajudam nas tarefas da escola, levam para as festinhas e, muito recentemente, alguns até participam de palestras e workshops sobre educação de filhos!

Todos já ouviram a frase que diz que "A coisa mais importante que um pai pode fazer por seus filhos é amar a mãe deles" (Theodore Hesburgh). De fato, muitos estudos psicológicos têm mostrado que há franca verdade nesta citação, pois revelam que a qualidade da relação conjugal dos pais contribui para o repertório moral e pode predizer diversos comportamentos dos filhos, entre eles, o sucesso de suas relações futuras.

Porém, não é somente isso. Pesquisas internacionais, realizadas e replicadas de forma sistemática, enfatizam que o envolvimento do pai na vida de seus filhos está fortemente relacionado com o seu bem-estar, desde a infância e ao longo da vida. Por exemplo: quando o pai apóia e avalia positivamente a esposa, ela mostra-se mais competente na amamentação do bebê; crianças avaliadas com um ano de idade mostram-se mais desenvolvidas cognitivamente quando o pai participa em seus cuidados; crianças cujos pais têm atitudes sensíveis e positivas apresentam melhor capacidade de resolução de problemas durante a infância; mesmo quando há separação, se o pai é ativamente envolvido na vida dos filhos, eles tendem a ter menos problemas de comportamento. Pesquisas mostram que a ausência do pai (não-envolvimento na criação e educação) está correlacionada com muitos comportamentos de risco para os filhos, entre eles, comportamento anti-social, depressão, baixa auto-estima, uso de tabaco, álcool, drogas, início de vida sexual precoce e gravidez na adolescência.

Parece claro que o pai não pode mais ser apenas uma figura decorativa ou um distinto provedor. Os filhos querem do pai a força, o cheiro da loção mentolada, a barba que pinica, as brincadeiras que os tiram do chão e fazem esvoaçar os cabelos, e também o carinho do olhar, a delicadeza do braço que apóia e a suavidade da palavra que ensina e fala de amor. Não há maneira fácil de educar um filho sem ter um completo envolvimento nesta tarefa, tanto da mãe a quem se glorificou, como do pai; nem mais de um, nem do outro, mas uma verdadeira coparentalidade.

Lidia Weber é professora do Programa de Pós-graduação em Educação da UFPR. É doutora em Psicologia pela USP e autora de "Eduque com Carinho" (Juruá) e de outros livros sobre relacionamentos familiares. www.nac.ufpr.br

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