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A economia é circundada por dilemas dados por parâmetros como a taxa de juros e, agora, a taxa de câmbio. O principal coro contra a queda significativa da taxa de câmbio (o real se valorizou quase 5% somente no primeiro trimestre de 2007) é puxado pelos exportadores. Para compreender melhor a relação entre taxa de câmbio e ganho dos exportadores é importante avaliar alguns pontos, como evolução do valor da taxa de câmbio, impacto na redução das exportações pela valorização cambial e possibilidade de alternativas de políticas públicas. Analisemos cada um:

– Evolução do valor da taxa de câmbio: utilizando o conceito de taxa média efetiva, medida da competitividade das exportações brasileiras calculada pela média ponderada do índice de paridade do poder de compra dos 16 maiores parceiros comerciais do Brasil para cada área, pode-se observar que a taxa de câmbio para exportações está 9% menor em abril de 2007 que em 2000. Ou seja, a desvalorização efetiva é de 9% para os produtos exportados. Obviamente, isso é diferente para cada setor. O agropecuário, por exemplo, ainda tinha uma taxa de câmbio 17% mais valorizada em dezembro de 2006 que em 2000. Já a indústria automobilística, tinha uma taxa 27% menor neste mesmo período.

– Evolução das exportações: no primeiro trimestre elas foram em média 15% maior que no mesmo período de 2006, sendo 24% para os produtos básicos e 12% para os industrializados. Mesmo com a valorização do real em 9%, o câmbio contratado para exportação é três vezes maior em março de 2007 que em 2000, o que mostra que não houve impacto negativo direto.

– Alternativas: o apoio à exportação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi de US$ 6,4 bilhões em 2006 (quase 5% do valor exportado), especialmente para a indústria de transformação, que concentrou 90% dos recursos, e, mais especificamente, os setores automobilístico, de transporte e de máquinas e equipamentos representaram 70% dos recursos desembolsados pelo BNDES nessa modalidade.

Em virtude dos pontos discutidos, obviamente não se pode descartar que alguns setores econômicos têm um impacto negativo maior que outros em razão da valorização do real. Em contrapartida, a ação direta no mercado cambial é uma política horizontal ineficaz, ou seja, afeta vários outros mercados, exportadores ou não, para melhora da rentabilidade de alguns setores e se mostra ineficaz por justamente empregar um alto recurso para desvalorizar o câmbio com intuito de melhorar o desempenho da economia. Assim, acaba por alcançar um resultado específico com externalidades negativas, como o próprio aumento dos custos de matérias-primas importadas.

As alternativas de fortalecimento da competitividade desses setores via linhas de financiamento do BNDES, por exemplo, ou políticas de apoio à inovação tecnológica ou outra ação setorial, com recursos mais específicos e para um público direcionado, possibilitam maior eficiência nos resultados. Muitas empresas se protegem da valorização do real com o aumento das importações de matérias-primas, que tornam a receita menor, mas o custo também.

A busca pelo aumento da competivividade da empresas exportadoras não pode se sustentar na desvalorização cambial. Este é um movimento internacional que afeta não apenas as empresas brasileiras. Cada vez mais os ganhos das empresas são decorrentes da própria venda do seu produto e serviço e menos do mercado financeiro (seja juro ou câmbio). Isso exige estratégias e investimentos das empresas para aumentar a capacidade competitiva e, nesse ponto, as políticas públicas devem ser efetivas para apoiar o desenvolvimento da indústria brasileira. Trata-se de uma nova demanda para o poder público brasileiro, que deve dar suporte para os exportadores se estruturarem e competirem no mercado internacional.

Christian Luiz da Silva, pós-doutor em Agronegócios pela USP, é professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da Unifae Centro Universitário. É autor de Microeconomia Aplicada. www.christian-silva.ecn.br

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