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A carência de líderes no mundo de hoje transforma o papa Francisco numa das figuras mais emblemáticas da atualidade. Em todas as suas atitudes transcende a personalidade firme, determinada, de um pastor que assume a responsabilidade de conduzir um imenso rebanho de fiéis não como um fardo, mas como uma missão sublime a que se entrega com o entusiasmo de quem pratica naturalmente o amor ao próximo e a caridade. Sem ferir cânones e rituais, está deixando de lado as pompas e circunstâncias do pontificado e, com gestos e palavras de valores indiscutíveis, está aproximando a Igreja Católica dos dias atuais e de seus seguidores.

De certa forma, ele aliviou o peso da culpa de quem se sentia permanentemente em pecado por sua condição homossexual ou por ter reconstruído sua vida em uma segunda união. Quando se refere aos pobres – e tem feito isso com frequência – é com a preocupação de contribuir para diminuir a miséria, a fome e a desigualdade no mundo. É tão humano como qualquer um de nós ao torcer por um time de futebol ou confessar que furtou o crucifixo de um padre amigo que havia morrido. Tudo isso não o diminui, pelo contrário, o engrandece.

Tem revelado, em todas as suas ações, a simplicidade e a humildade dos santos sem tirar os pés da terra ao compreender que a sua missão espiritual se realiza em seres humanos com limitações e necessidades materiais. Só esses aspectos já justificariam a admiração que ele desperta no mundo. Mas o papa Francisco é muito mais que isso.

A sua tolerância e a disposição para perdoar quando trata com os fiéis se transformam em rigor e austeridade nas questões que envolvem a sua condição de chefe do Estado do Vaticano. Está enfrentando com coragem e transparência os dois maiores problemas do papado nos últimos anos: a corrupção no Banco do Vaticano e o envolvimento de religiosos em pedofilia. Em nenhum momento ele tentou amenizar ou proteger pessoas e, no segundo caso, chegou a pedir, publicamente, perdão pelos crimes cometidos. Não é sem razão que o papa Francisco, sem qualquer planejamento de marketing ou intenção midiática, desperta tanto interesse e chama a atenção da imprensa de todo o mundo.

A carência de líderes, de estadistas capazes de encontrar soluções diplomáticas para os problemas internacionais, de reconhecer erros e corrigi-los, de agir com clareza e colocar os interesses de todos acima de tudo, o destacam como um paradigma neste início de século. Ninguém sabe ao certo que forças se opõem ou que motivos impedem que se encontre uma solução para a guerra civil da Síria, para a desestabilização da Ucrânia, para a questão da Palestina e tantos outros conflitos regionais em que o prejuízo e o sofrimento ficam sempre com as populações locais. Vários chefes de Estado têm procurado se aproximar do papa Francisco, mas não sei se algum (ou os políticos que os cercam) está disposto a mudar seus hábitos. Neste ano de eleição, seria bom se os candidatos meditassem um pouco no exemplo desse papa que trata as pessoas com a solidariedade e a tolerância de um pai e as coisas do Estado com o rigor de coisa pública. E nem precisam ter a sua simplicidade e humildade de santo.

João Elisio Ferraz de Campos, empresário, membro do Conselho do Instituto Ciência e Fé, foi governador do Paraná.

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