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O acidente em Fukushima inten­­sificou um movimento novo e cres­­­cente na sociedade alemã, deno­­­minado Wutbürger (cidadão irado), que vem manifestando seu des­­contentamento e indignação

Após o desastre nuclear em Fukushima Daiichi, o diretor da Associação Mundial dos Operadores de Usinas Nucleares (WANO – World Association of Nuclear Operators), Laurent Stricker, admitiu em entrevista ao periódico Nature que o futuro dessa tecnologia de geração é incerto e que qualquer outro evento dessas proporções deverá significar o fim da utilização da energia nuclear em todo o mundo. Em editorial no mesmo periódico em 2007, marcando os 50 anos do início de operação da usina Calder Hall no Reino Unido, que naquela data estava sendo permanentemente desativada, observou-se que, além da questão intrínseca relacionada à segurança, o principal problema da geração nuclear está relacionado ao custo.

Existe muito pouca informação publicamente disponível sobre o custo da geração nuclear. Uma exceção é o trabalho da Comissão de Energia da Califórnia (CEC), que periodicamente examina e publica o custo das várias fontes de geração. Segundo o estudo de 186 páginas da CEC, em função das exigências crescentes quanto à segurança e descarte de rejeitos, o custo da geração nuclear pode chegar a até US$ 342/MWh em 2018 nos Estados Unidos, cerca de três vezes mais cara do que a tarifa média residencial naquele país. No Brasil, não existe informação sobre o custo da geração nuclear publicamente disponível.

A Alemanha, que já havia instaurado uma moratória nuclear há vários anos e que mais recentemente voltara atrás, adiando o descomissionamento das usinas mais antigas, desistiu de dar uma sobrevida a esses geradores após o evento no Japão. Como consequência imediata do acidente nuclear em Fukushima, a chanceler alemã, Angela Merkel, ordenou a desativação permanente de dois reatores nucleares naquele país e a parada temporária na operação de outros cinco. No final de maio, a Alemanha anunciou a decisão de abandonar permanentemente a energia nuclear até 2022. O acidente em Fukushima intensificou um movimento novo e crescente na sociedade alemã, denominado Wutbürger (cidadão irado), que vem manifestando seu descontentamento e indignação por não ser chamada a opinar sobre questões tão importantes como essa. O termo Wutbürger foi inclusive escolhido como a palavra do ano na Alemanha em 2010. Os Wutbürgers não são um grupo pautado por uma ideologia, mas sim um conjunto de cidadãos de elevado grau de instrução que representa uma resistência ao estilo político da tomada de decisão sem consulta à população. Por todos os lados na Alemanha se veem bandeiras nas sacadas de apartamentos declarando a oposição do público para com a energia nuclear. Enquanto isso, no Brasil continua faltando a participação da sociedade na questionável decisão do país em avançar na utilização da energia nuclear.

Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, é diretor técnico do Instituto para o Desenvolvimento das Energias Alternativas na América Latina (Ideal).

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